domingo, 29 de agosto de 2004

Os tesouros da biblioteca do IHGS

Fachada e brasão do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.Imagem de abertura do site da instituição. Aracaju-SE.
A biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe guarda muitos tesouros. Foi construída ao longo dos noventa e dois anos do grêmio e comporta acervo de aproximadamente cinqüenta mil volumes entre periódicos, folhetos, separatas e livros. É uma pena que somente 10% desse patrimônio seja do conhecimento da geração nascida com a Universidade. Os catálogos são insuficientes. Qualquer esforço de organização profissional de um conjunto com tais dimensões consumiria anos de trabalho de uma equipe, ou mesmo a vida de uma pessoa, como foi o caso do esforço de Epifânio Dória.
Mas, com a invenção do microcomputador e o cometimento de algumas heresias em matéria de biblioteconomia, a tarefa pode se tornar exeqüível em alguns meses. Essa foi uma das metas anunciadas pela atual diretoria do IHGS, eleita para o biênio 2004/2005. Trilhando pelas orientações do presidente – “socialize tudo, mas não destrua o que já foi feito” –, os atuais responsáveis pelo acervo têm o prazer de comunicar os primeiros passos dessa reorganização.
Em cento e cinqüenta dias de trabalho, já é possível ter acesso a 100% de, pelo menos, três importantes coleções: a coleção João Faria (AG), o acervo de obras de referência (OR)  e conjunto bibliográfico da Sessão Sergipana (SS).
Diêgo Freitas e Christinilton Gally
(estagiários) em trabalho de higienização.
Acervo bibliográfico do IHGS
em processo de separação.
A primeira coleção constituiu-se a partir das “doações honrosas” do desembargador João Fontes Faria. É composta por mil e setenta e quatro obras sobre história da arte, literatura, história do Brasil. Há também coleções de periódicos de circulação nacional como Vamos Ler, enciclopédias e bibliografia de autores sergipanos. Para avaliar a nobreza do ato do dr. João Faria, hoje sócio benemérito do Instituto, remeto o leitor ao artigo de Ibarê Dantas, publicado em junho último (“Doações honrosas”. Jornal da Cidade, 24 jun. 2004).
A segunda coleção possui trezentos e noventa exemplares de enciclopédias e dicionários. Na rubrica enciclopédias (e assemelhados) estão as conhecidas Barsa e Larrouse, bastante úteis aos eruditos e aos estudantes do ensino fundamental e médio. Mas, também compõe o acervo as grandes coleções que tratam da história das civilizações, história da arte e um rico repositório sobre uma centena de gênios da pintura universal.
Em primeiro plano, Saionara
Nascimento (estagiária) registra
os livros em banco de dados.
Os dicionários, que fazem a delícia do escrevinhador, estão situados na sala de leitura do IHGS. São de todo tipo: há os de sinônimos, etimológicos, prosódicos e os de definição – em língua portuguesa, inglesa, alemã, italiana, persa, latina, tupi, yorubá. Há também dicionários especiais – de história, corografia, de artistas, educadores, historiadores, de genealogia, filosofia, política, geologia, mitologia, de fábula, folclore, temas populares, gíria, provérbios, de plantas úteis e de vida sexual. Os dicionários biográficos ou biobibliográficos são os mais numerosos, depois dos de língua portuguesa. Cobrem autores sergipanos, paulistas, cearenses e brasileiros de forma geral.
Entre os raros, pelo ano de produção, a Biblioteca do IHGS guarda uma dúzia de volumes do Dictionnaire Philosophique, de Voltaire (1827, 1829), o Magnum Lexicon Novissimum Latinum et Lusitanum (1846), alguns títulos da língua brasileira/lusitana editados em 1813, 1832, 1850, 1873, 1899, e também os prestigiados do século passado, como Caldas Aulete (1958), Laudelino Freire (1939) e Antenor Nascentes (1958).
O último tesouro organizado foi o conjunto de livros folhetos e separatas da Sessão Sergipana. Sob essa rubrica, sucessivas gerações dos sócios do IHGS reuniram peças submetidas a três critérios: 1) ser obra de sergipano nato; 2) ser obra de autor aqui radicado; 3) obra que trate de Sergipe, de sergipanos ou de autores aqui radicados. O acervo já chegou a três mil e trezentos títulos, produzidos por mil autores, aproximadamente.
Entre os contribuintes vivos, seguem imbatíveis o Governador João Alves Filho (65 títulos) e Maria Thétis Nunes (28). Das instituições, o Governo do Estado está na dianteira da produção, seguido da Universidade Federal de Sergipe e da Prefeitura municipal de Aracaju.
Biblioteca do IHGS em fase final
de organização. Foto: Acervo do
IHGS (2008).
Biblioteca do IHGS em fase final
de organização. Ao fundo, estagiário
em atividade. Foto: Acervo do IHGS (2008).
Esses números, evidentemente, nada podem informar sobre o perfil dos autores e livros. Mas, não deixam de ser indiciários sobre a política de recolhimento da bibliografia sergipana encetada pelo Instituto. Esses dados são também indicadores do interesse de alguns pela conservação de seus feitos na história de Sergipe. Não há classificação por assunto. Contudo, um exame de sobrevôo basta para verificar que a contribuição literária strictu sensu foi diminuta em relação às obras de ciências humanas e sociais e aos relatórios administrativos.
O leitor mais rigoroso estranhará a presença de roteiros e até mesmo de catálogos telefônicos. Também estranhei, a princípio. Mas, lá estão e lá ficarão.O próprio tempo de moradia de tais publicações no acervo já lhes concedeu legitimidade e cidadania. Quem descartaria um guia de Aracaju com esboços a mão livre de uma Aracaju dos anos 1950, limitada entre o bairro industrial e o rio Tramandai? Quem descartaria originais de peças teatrais do século XIX, produzidas por Severiano Cardoso simplesmente pelo fato de não estarem impressas?
Todo esse acervo foi inventariado e catalogado por bolsistas do curso de licenciatura em história da Universidade Federal de Sergipe, financiados pela própria UFS e, principalmente, pela Secretaria de Governo da Prefeitura Municipal de Aracaju, a quem o Instituto não cansará de agradecer. Mas, o melhor de tudo mesmo é que esse acervo já está à disposição dos leitores. O IHGS aguarda a sua visita e também a sua contribuição.


Fontes das imagens
Fachada e brasão do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. <http://www.ihgse.com.br>. Acesso em 27 nov. 2010.
Biblioteca do IHGS em fase final de organização. Ao fundo, estagiário em atividade / Biblioteca do IHGS em fase final de organização. <http://www.ihgse.com.br/biblioteca.asp>. Acesso em 27 nov. 2010.
Material em processo de separação / Biblioteca do IHGS em fase final de organização / Saionara Nascimento (estagiária) registra os livros em banco de dados. Acervo de Itamar Freitas.



Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Os tesouros da biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 29 ago. 2004.<http://itamarfo.blogspot.com/2010/10/biblioteca-do-instituto-historico-e.html>

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