domingo, 14 de novembro de 2004

Bibliografia historiográfica do século XIX

Definindo a expressão: esse é um exercício de bibliografia antiga sobre as obras de história produzidas em Sergipe durante o século XIX. É bibliografia porque relaciona e  enreda os textos segundo os elementos de referência bibliográfica – autor, título, ano de publicação etc. É bibliografia antiga porque, além de limitar-se aos dados clássicos, não leva em conta a materialidade dos trabalhos, ou seja, não “envolve o estudo rigoroso dos livros como objetos físicos” – assinaturas, vinhetas, tipos, tinta, papel etc. – como se vem realizando em outros cantos do mundo. (cf. Darnton, 2004; Andrade, 2002).
Qual o valor de um estudo dessa natureza? A resposta aqui já foi anunciada: o oitocentos é o século da invenção de Sergipe. É o tempo da autonomia política, que faz par com independência, separação, identidade, concentração e controle local. Para fabricar essa formação social, as literaturas ficcional e historiográfica tiveram lá o seu papel. (A Semana em Foco, 31/10/2004). Assim, reunir os escritos que inventam um passado para Sergipe é também uma forma de estudar, concomitantemente, a construção desse próprio Sergipe e da atividade historiadora local.
Comecemos, então, pelos títulos. Eles são curiosos, alguns rabelaisianos. Observem o gênero expresso, o objeto tematizado e o emprego da história como adjetivo: Descrição geográfica da capitania de Sergipe d’el Rey (?, 1802); Memória sobre a capitania de Sergipe, sua fundação, população, produção e melhoramentos de que é capaz (Marco Antonio Souza, 1808); Descrição abreviada da Cidade de Sergipe d’El Rei, povoações, Vilas, Freguesias e suas denominações pertencentes a mesma cidade, e sua Comarca (José Teixeira da Mata Bacelar, 1817); Informação sobre a província de Sergipe em 1821 (José Antônio Fernandes, 1821); Memória histórica e documentada dos sucessos acontecidos em Sergipe de El Rei, sendo governador daquela Província Carlos Cezar Burlamaque que a foi criar, em independente, e separada totalmente da Bahia por decreto de sua Majestade fidelíssima de 8 de julho de 1820, e carta patente de 25 do mesmo mês e ano (Carlos Cezar Burlamaque, 1821a); Breve notícia sobre a Revolução do Brasil em 1821 nas províncias da Bahia, Sergipe e Alagoas, por serem estes lugares os que tenho viajado desde a época da Constituição; sobre o que descrevo o que tenho observado e ouvido dizer, etc. (sic.) (Antonio Moniz de Souza, [1823]); Notícia topográfica da Província de Sergipe, redigida no ano de 1826 (Inácio Antônio Dormundo, 1826); e Notícias geográficas e históricas desta Província ([Miguel Arcanjo Galvão], 1845/1847).
Claro que aí estão apenas os escritos produzidos até 1847. São poucos. São os que nos sobraram no momento. Também misturam geografia, etnografia, escrito de viagem e biografia sob a forma de relato administrativo. Mas, lembrem-se que estamos na primeira metade do século XIX. Nada de saberes especializados, fossem eles eruditos ou escolares. De “ciência”, exageremos, só uma: a ciência do Estado, a estatística – mensuração e controle das terras, águas, minas, plantas, animais, edificações e gentes.
Pelos temas, também sabemos das demandas. É o Estado um grande curioso dos seus domínios e potencialidades. Em princípio, essa imagem da Província é construída sob a política realenga ilustrada de D. Rodrigo Coutinho (1808). Depois, busca-se cumprir o preceito nacionalista integrador da Constituição de 1823 – a estatística provincial (cf. Leis do Império, 1887). Nos textos de 1802 e 1821,  estão as marcas do controle exercido, respectivamente, pelo governo da Bahia e pelo primeiro burocrata provincial – Carlos César Burlamaque. Nos dois últimos, não obstante as razões pessoais, o interlocutor (a ser construído ou corrigido) é o Estado.
O que há nesse desenho? Em primeiro plano, a natureza. Os homens são números. As povoações são quase comunidades religiosas. Nas páginas, comparando-se com a expectativa de futuro, o apelo ao passado é diminuto. As individualidades, por sua vez, ganham a cena nos fragmentos autobiográficos, onde a política é experiência hegemônica. As distinções brasileiros/portugueses, livres/escravos predominam. Mas já se nota um esforço em caracterizar o “sergipense” e em forjar para ele uma memória anterior a 1820.
Esse desenho tem o homem livre e letrado como autor, é óbvio: os secretários de governo, o brigadeiro português, o padre latinista aposentado, o tesoureiro, e somente um homem de primeiras letras – Antônio Moniz de Souza – (ainda que se recolhesse por anos ao convento franciscano do Rio de Janeiro).
Esse esboço é caracteristicamente descritivo, ganha a forma de relação, descrição, memória, breve notícia e notícia topográfica. Ele frequenta o imaginário de poucos leitores, além daqueles que governaram até meados dos anos 1840 e de alguns ciosos funcionários. Excetuando-se as denúncias de Burlamaque e de Moniz de Souza, publicadas na Bahia e no Rio de Janeiro, os demais escritos foram se abrigar nos arquivos das cortes lisboeta e carioca.
Por esse motivo, o último texto do período – Notícia topográfica [1845/1847] – merece atenção especial. [Galvão] teve acesso, provavelmente, à “estatística” de 1826. Efetuou pesquisas nos moldes pregados pelo IHGB dos anos 1830 – os questionários por carta –, divulgou os verbetes em periódico local e quis corrigir a imagem de Sergipe, impressa no Dicionário descritivo do Império do Brasil, do francês Milliet de Saint Adolphe (1845). Galvão ligou-se, portanto, a Dormundo (1826) e também a Travassos (1860), o autor da primeira narrativa global sobre a vida dos sergipanos.
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O segundo tempo dessa bibliografia pode ser iniciado com os trabalhos de Antônio José da Silva Travassos – Apontamentos históricos e topográficos sobre a Província de Sergipe (1860) e Memorial histórico da Província de Sergipe (1866). Nada muito especial com essas primeiras narrativas gerais. Não são purezas de estilo, mas indicam outra mudança significativa nesse tipo de texto: a demanda por história – além da história de síntese –, é interna. É o empreendedor local quem também está preocupado com o desenvolvimento econômico e político da Província. Nas duas obras, Travassos transforma-se em conselheiro do Imperador e conselheiro do Presidente da Província, respectivamente. Tudo pelo bem comum dos sergipanos. Após Travassos, Sergipe ganharia um passado inscrito em papel, e o mito de origem – a conquista de Cristóvão de Barros sobre os índios (1590) – já poderia ser cultuado por todos.
A iniciativa particular, contudo, não inibe a ação do Estado. Ele ainda está interessado no desenho da Província. Em tempos de “conciliação”, e baseado em Aracaju, o governo autoriza os estudos sobre os limites entre Sergipe e Bahia. É preciso recuperar os vários quintos de território apropriados indevidamente pela “mulata faceira”. Dessa política, têm origem os trabalhos de Martinho de Freitas Garcez (1859) – Descrição sinóptica da Província de Sergipe (1859) –, de José Zacarias de Carvalho (1861) e a Memória de Joaquim José de Oliveira (1863).
De passagem pelos cartórios – arquivos disponíveis para poucos à época –, tendo os autos como testemunho das propriedades sergipanas, o pesquisador já não é mais um curioso que sabe compor. Ele estudou direito ou medicina e ensaiou os primeiros passos na literatura, as primeiras iniciativas da ficção em Sergipe. Assim ocorre com Joaquim José de Oliveira que produziu a partir de fontes cartorárias, não apenas sobre limites de Sergipe, mas também acerca de Simão Dias, o homem e a povoação. Esses foram os objetos das suas Histórias perdidas, publicadas em 1864.
O Estado interessado nos limites também motiva a produção da primeira monografia sobre uma das nossas ilhas de prosperidade em meados do século XIX. Por ordem de Manuel da Cunha Galvão, foi escrita a Memória sobre a Vila de Propriá, desde a sua origem até hoje. Esse trabalho, ainda inédito, fora remetido ao então Ministério do Império por seu autor, Antônio José Pereira Guimarães. O mesmo Cunha Galvão (1860), foi o responsável por inscrever nos anais da memória local a narração dos preparativos, festejos e felicitações que tiveram lugar por ocasião da visita que fizeram à mesma sua majestades imperiais em janeiro de 1860.
Na administração seguinte – de Tomás Alves Júnior –, talvez embalada pela contenda dos limites com a Bahia, a Assembléia Legislativa Provincial (1860) autoriza ao governo da Província a “dar 4000$000 a quem apresentar no prazo de 10 anos a mais completa história da província de Sergipe”, obra que seria julgada pelo “Instituto Histórico do Rio de Janeiro”. (Franco, 1879, p. 664-665). Registre-se ainda que, nessa mesma década (1854), os ensinos de história e de geografia são instituídos oficialmente no secundário local.
Na imprensa diária e nas casas editoras da Bahia, as histórias de vida de sergipanos, como os que combateram nas campanhas de Cisplatina e do Paraguai, por exemplo, dão um sopro no gênero de Plutarco. Surgem os escritos de Etelvino de Barros (1867), Severiano Cardoso (1867) e Justiniano de Melo e Silva (1872). É possível que os Apontamentos sobre alguns atos da vida pública do cidadão brasileiro José Pinto de Carvalho, publicado à época (1867), tenham sido o primeiro impresso autobiográfico do século.
Chegamos, finalmente, ao início dos anos 1870. Nenhum nativo habilitou-se a escrever a tal história solicitada pela Assembléia em 1860. Onde estariam os nossos cronistas? E os nossos românticos literatos? É exatamente nesse período que discursa em Aracaju um jovem egresso da Faculdade de Direito do Recife, com frescas leituras de Comte e de Darwin. Para o noviço Silvio Ramos, a resolução legislativa de 1860 significava um grande avanço em termos políticos. Mesmo que se desconte a investida retórica – da formação e da ocasião – o parlamentar deve ter inflado o ego dos presentes com esse juízo: “foi um exemplo sem antecedente nesse país, o de um intuito puramente literário e científico votado numa Assembléia. Isso exalta o espírito inteligente dos sergipanos”. (Ramos, 1874, p. 93). Depois do exórdio, é claro, vieram as críticas ao projeto e as novas orientações para a elaboração de uma síntese de história de Sergipe. Deveria ser uma obra cientificista, distante dos modelos apresentados no Brasil por “homens de cultura acanhadíssima, como um Pereira da Silva e um Adolfo Varnhagem”. Para o Silvio Ramos, os historiadores Brasileiros – cronistas – sequer copiavam “a concepção estreita” de gente como Guizot e Michelet, quanto mais conceber a história em moldes atualizados. Quanta arrogância! Nosso romantismo literário nem bem aflorava e já estava aquele frangote a jogá-lo no lixo, tudo por conta de um positivismo absorvido às pressas.
O que interessa concluir desse tempo é que o projeto foi aprovado em primeira discussão com as mudanças sugeridas. Mas, ninguém se atreveu a escrever a história local nos moldes indicados pelo bacharel Silvio Ramos, que também não se interessou pela história da acanhada Província. Preferiu, ele mesmo, esboçar a sua teoria sobre a história como ciência em 1880 e, mais adiante, numa obra que lhe traria muita fama: a História da literatura brasileira. Aí, em 1888, o deputado Silvio Ramos já se tornara o poderoso crítico Silvio Romero.
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A síntese histórica sobre a Província, como dito acima, não chegou a ser concluída. Ninguém ganhou o prêmio oferecido pela Assembléia Legislativa. Sabe-se da existência de dois manuscritos inéditos e não localizados que poderiam configurar iniciativas nesse sentido: o texto de Joaquim José de Oliveira, Apontamentos para a história de Sergipe, e o de Manoel J. de Oliveira [Campos], a Conquista de Sergipe. (cf. Guaraná, 1924; Freire, 1977). A tão esperada História de Sergipe seria publicada apenas em 1891, por Felisbelo Freire, médico e primeiro presidente republicano da terra.
A obra nascera cientificista – ao gosto de Silvio Romero – anti-romântica e anti-metafísica (?) – “Freire foi seguidor de Spencer do começo ao fim”. Mas, a forma expositiva não se distancia do modo clássico celebrado por Varnhagen como desejaria Romero. “Para Felisbelo Freire, como para os demais historiadores do seu tempo, historiar é narrar uma sucessão de eventos na ordem temporal que aconteceram. História é a epopéia da narrativa, verdadeira, de um reino, uma dinastia, um povo ou uma sociedade (...). Da tradição historiográfica do século XIX, o modo de segmentar o tempo também se mantém: “[e]m muitos estudos, o pesquisador manifesta sua opção por parâmetros de cunho político-administrativo para periodizar (...). Freire reparte a história do estado consoante os governos que o administraram desde a conquista até a transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju”. (Alves, 2000, p. 15, 18).
Antes dessa síntese, algumas monografias foram ensaiadas, ganhando a forma de apontamentos históricos ou de corografias: Corografia do município de Lagarto, de Eutíquio de Novais Lins; Notícia histórica sobre o município de Divina Pastora, Alfredo Acioli do Prado; Apontamentos históricos e topográficos da vila de Campos, Joaquim Honório dos Santos; e Descrição de Itabaiana, de Armindo Guaraná (1886). Dessas iniciativas, lamentavelmente, pouco se sabe além dos títulos e autores. São trabalhos depositados em arquivos privados ou de institutos históricos, esperando pela curiosidade dos passantes. Desses quatro textos, apenas o de Armindo Guaraná encontra-se à disposição dos sergipanos no acervo do IHGS.
A biografia é outro gênero cultivado, nesse tempo que vai do discurso de Silvio Romero (1874) à primeira síntese científica, a História de Sergipe de Felisbelo Freire (1891). A intenção biográfica era idêntica aos objetivos de Freire: tornar Sergipe conhecido no país e no estrangeiro; destacar os momentos em que a experiência local “influenciou” na trajetória da experiência nacional, entre outros (registre-se que o itaporanguense também iniciou-se nas histórias de vida com trabalhos sobre Gaspar Dias Ferreira e o Padre Antônio Vieira).
Além de Freire, nessa seara, também produziram: Apulcro Mota (1889), Gumercindo de Araújo Bessa (1889), Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior (1879/...), Manuel Curvello de Mendonça (1890) e Armindo Guaraná (1890/...). Bittencourt Sampaio, Horácio Hora e Tobias Barreto foram os objetos eleitos para figurarem no panteão do lugar – o grande poeta e primeiro republicano, o primeiro artista plástico e o primeiro filósofo. A morte dessas grandes “genialidades” nativas significou, paradoxalmente, a vida e o enriquecimento do passado sergipano.
Vários desses autores destacar-se-ão nas duas décadas iniciais do novo regime. Releve-se, entretanto, a grande fertilidade da escrita de Armindo Guaraná e de Carvalho Lima Júnior.
Guaraná é celebrado como o homem do Dicionário biobibliográfico sergipano (1925), obra volumosa – quase seiscentos verbetes – gestada com a experiência da transição monarquia/república. Experiência empregada, principalmente, na correção de outro monumento sobre vidas nacionais, o Dicionário bibliográfico brasileiro, de Sacramento Blake (1883/1902). Esta intervenção lhe causou muita dor de cabeça. Seus méritos foram empanados pelos baianos – alguns jornalistas de Salvador e o próprio Blake – o que gerou uma disputa identitária entre intelectuais daqui e de lá, veiculada na imprensa do Rio de Janeiro. A obra biográfica de Guaraná é tão possante que deixa na obscuridade a citada Descrição de Itabaiana (1886), seguramente, a primeira obra de corografia publicada em Sergipe.
 Quanto ao itabaianense Lima Júnior, militante republicano, jornalista, político engajado e cultor da polêmica, este é, talvez, o escritor que mais produziu no período e com objetivos não estritamente propagandísticos. Entre os nomes do século XIX, Carvalho Lima Júnior é, certamente, o único a rivalizar com Felisbelo Freire em termos de empenho na pesquisa documental, abrangência de períodos e temas. Pode-se dizer que ele permaneceu por mais tempo em contato com a documentação manuscrita em suporte papel e deu muita voz à tradição (oralidade).
Não é improvável que estivesse preparando uma versão concorrente à História de Sergipe de Felisbelo e seria, certamente, mais rica, dado o seu interesse por educação, economia, arte e literatura e os exercícios nos campos da biografia e da síntese sobre municípios. Por não beber do cientificismo dos bacharéis, talvez, fora mais presentista e explicitou o emprego de alguns princípios do método crítico.
Curiosamente, sua obra de maior fôlego ganha o público, apenas, no século XX, após a morte de Felisbelo e a fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Mas, aí já é tarde para a fama de historiador. Nos rastros da queda do antigo regime e das primeiras críticas à inoperância da República, Sergipe já presenteara o centro do Brasil (Rio de Janeiro) com os nomes de Sílvio Romero, João Ribeiro e Manoel Bomfim, embora estes nativos pouco tenham contribuído para esclarecer questões sobre  o passado local, como bem fizera o itabaianense.
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Muitos homens talentosos construíram sua base humanística em Sergipe. Os professores locais e o ensino da gramática, história, grego, latim, nos estabelecimentos públicos e privados da Província e do novo Estado, provavelmente, têm seus méritos na trajetória intelectual de jovens, como João Ribeiro, Manoel Bonfim, Fausto Cardoso e até o próprio Silvio Romero. Os cruzamentos históricos, entretanto, não permitiram que o pequeno Sergipe se transformasse, repito, em objeto de suas obras historiográficas. Eles teorizaram sobre a história – pragmática, monística, evolucionista de vários matizes etc. – e construíram sínteses sobre a experiência brasileira, algumas das quais figuram como obras modelares, a exemplo de História do Brasil para o curso superior, de João Ribeiro (1900). Os que ficaram ou, pelo menos, os que partiram e voltaram a residir em Sergipe, não descuraram da experiência local, motivados por outras demandas que, por sua vez, geraram novas histórias sobre o Estado.
A primeira dessas demandas tem origem nas políticas públicas para a instrução primária. É com a República que os primeiros livros didáticos de história e de corografia são editadas por estímulo e até patrocínio do governo. O Regime é federado. Há espaço para Sergipe. É necessário, portanto, incutir nos escolares a idéia e a defesa dessa autonomia, o que é feito por meio da edição de: História de Sergipe, de Laudelino Freire (1898); Corografia do Estado de Sergipe, Luiz Carlos da Silva Lisboa (1897); e Quadro corográfico de Sergipe, Laudelino Freire (1898). Some-se a tais esforços o manuscrito inconcluso de Severiano Cardoso – [Corografia de Sergipe] e os estudos esparsos de Manoel dos Passos de Oliveira Telles, tratando do mesmo gênero corográfico.
A construção do passado local permaneceu como motivo importante para a produção historiográfica – experiência individual e legado coletivo – e independente, até, da ação do Estado. Esse pecúlio é disperso, fragmentário, sinóptico, ganha forma de artigo ou capítulo de obra nunca editada. Nesse sentido, devem ser considerados, principalmente, os trabalhos de Severiano Cardoso – Lagarto: história e costumes (1899); Pastor Sergipano – Estância (1899); Oliveira Telles – Ensaio sobre a música popular em Sergipe (1899) e Discurso [sobre a história política de São Cristóvão] (1900); Annibal Freire da Fonseca – Movimento literário [de 1890 a 1900] (1900), Sergipe intelectual (1900) e Tobias Barreto (1900); Balthazar Góis – Biografia de Francisco Hora de Magalhães (1900); Ovídio Alves Manaya – Tobias Barreto (1900); e de Carvalho Lima Júnior – Constantino José Gomes de Souza (1892). (cf. Almanaque Sergipano, 1892/1914; Guaraná, 1925; Almeida, 2004).
O discurso auto-referenciado de sergipanos também ganha reforço nesse tempo de biografias e de esboços sobre a produção intelectual. É provável que três histórias de vida, ainda parcamente conhecidas, tenham sido rascunhadas por seus próprios, digamos, personagens, ainda no século XIX. São os casos da Autobiografia de uma escritora – Emília Rosa Marsilac Fontes; das Recordações de uma vida..., representante da aristocracia local – Aurélia Dias Rollemberg; e de A vida de um pintor, que fundou a Escola de Belas Artes da Bahia – Oséias santos.
As três demandas já citadas – a celebração da própria memória, da experiência de notabilidades locais e da vida intelectual sergipense (dizia-se, à época, vida espiritual) estão juntas em duas obras monográficas que tratam a passagem do regime monárquico ao republicano. A República em Sergipe: apontamentos para a sua história (1891) e Sergipe: estudo crítico e histórico (1896) têm grandes méritos em relação aos demais. Eles tematizam o presente imediato e discutem sobre os lugares da crônica e da história – sobre os lugares do cronista e do historiador. Seus autores, respectivamente, Balthazar Góis e Manuel Curvello de Mendonça, apresentam diferentes visões sobre a chegada da República. A disputa, porém, não se resume aos conflitos de memória desses dois ativistas da propaganda, tampouco às teses sobre a recepção ao movimento republicano. São também um debate acerca do modo de se escrever a história: entre a justaposição de biografias e o exame das idéias em suas origens, causas e conseqüências. A discussão em torno do tema também gerará dois outros trabalhos, somente publicados no século seguinte: A década republicana em Sergipe, de Francisco Carneiro Nobre de Lacerda (1906) e A propaganda republicana em Sergipe, de Carvalho Lima Júnior (1917).
Esse último tempo da bibliografia historiográfica do século XIX bem poderia contemplar a fundação de gabinetes de leitura e a revitalização da biblioteca pública (no governo Felisbelo Freire) como demarcadores institucionais da escrita da história (notem que a idéia de Biblioteca Provincial, em 1848, já incorporava funções dos institutos históricos). Mas, as pesquisas ainda não permitem afirmá-lo. Se se quiser apontar alguma instituição aglutinadora de intelectuais que escreviam história, pode-se incluir o Almanaque Sergipano. Toda a geração uma nascida a partir da década de 1850 será acolhida pelas páginas do Almanaque, principalmente. Seus redatores eram historiadores. Por essa espécie de primeira vitrine coletiva, entretanto, pode-se também perceber que o trabalho é individual, as fontes constituem acervos privativos de cada historiador, e a escrita da história é, ainda, uma habilidade entre várias requisitadas ao homem das letras desse tempo.
Mudanças nesse quadro só teremos no século XX, quando a maioria dos citados fundará o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (1912), cuja principal tarefa é a de reunir as fontes e ensaiar a escrita sistemática sobre as notabilidades individuais e sobre os municípios sergipanos. É um grêmio ecumênico, atrelado ao Estado e avesso à polêmicas. O IHGS congrega os interessados em servir à Clio, trata a história como ciência. Mas conserva práticas do ofício dos historiadores do século XIX, obviamente. Essas características serão abaladas a partir da morte da geração fundadora (décadas de 1920 e 1930) e com a introdução de matérias teórico-metodológicas no curso de licenciatura em História da Universidade Federal de Sergipe, nos anos 1970. Aí principia o ensino sistemático do ofício do historiador. Ensina-se a escrever a história segundo normas da filologia, paleografia e diplomática alemãs e/ou francesas – regras codificadas na Sorbonne, à mesma época (fins do século XIX) em que os fundadores do IHGS solicitavam os instrumentos da biologia para praticar a história como ciência.
Nos anos 1990, a experiência com os projetos heurísticos e os grandes congressos realizados na década anterior, as pesquisas de pós-graduação dos professores do Departamento de Filosofia e de História da UFS e as primeiras orientações de bacharelandos vão fornecer uma base para que seja adotado o trabalho obrigatório de pesquisa e composição históricas no curso de licenciatura. Essa iniciativa já resultou em centenas de monografias e pode ser considerada como um dos principais traços institucionais que têm vincado a trajetória do ofício do historiador em quase dois séculos de escrita em Sergipe. A instituição do trabalho monográfico, pela mudança de hábitos na pesquisa, pela abrangência temática, topográfica e teórico-metodológica, pela quantidade de pesquisadores que tem revelado nos últimos dez anos e pela autonomia em relação às demandas do Estado merece exame particularizado que delimite com precisão a sua relevância para a historiografia sergipana. Mas, isso já é tratar da bibliografia historiográfica do século XX, objeto que extrapola as metas desse curso que agora se encerra.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Bibliografia historiográfica do século XIX. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 14 nov. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver o sumário desta obra, acesse:
http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

A Igreja Católica em Sergipe no século XIX


Igreja de Comandaroba, em Laranjeiras – SE
Escrevi, há dois anos, que a historiografia sobre Sergipe no século XIX poderia ser representada por uma tábua de pirulitos. Claro que parafraseava Evaldo Cabral de Melo (1999), para quem a historiografia brasileira era um buraco com uns pontos mais, outros menos aterrados. No caso de Sergipe – mais grave –, determinados períodos e temáticas desafiavam o tempo e os historiadores, impossibilitando, por exemplo, a produção de uma síntese que não tratasse exclusivamente de sucessões e mandatos políticos.
Por que o interesse no século XIX? Não há mistério. O novecentos é o século da invenção de Sergipe. É o tempo da autonomia política, que faz par com independência, separação, identidade, concentração e controle local. Para fabricar essa formação social, a memorialística e as produções literária ficcional e historiográfica tiveram lá o seu papel. Mas, o monopólio da violência foi fundamental. Falar em controle no século XIX, é examinar o desenvolvimento de políticas públicas que envolveram a ação de, pelo menos, três “pês” profissionais: policiais, professores e padres. Tratar de padres, por conseguinte, é tratar da Igreja Católica, que detinha o controle oficial sobre a crença.
A pesquisa histórica profissional ainda não deu respostas significativas sobre os dois primeiros “pês.” Mas, em relação ao “p”, dos padres, párocos ou pastores, as informações começaram a ganhar domínio público ampliado com a defesa da dissertação de mestrado de Péricles Morais de Andrade Júnior, há quatro anos – Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja Católica em Sergipe (1831/1926). Em 2002, o terceiro capítulo, que tematiza a criação da “Diocese de Aracaju e a reforma do clero sergipano (1910/1931)”, foi publicado na Revista de Aracaju (n. 9), e agora, em escala nacional – História das religiões no Brasil (Recife: CEHILA/Editora da UFPE, 2004) –, divulga-se o principal texto: “A Igreja Católica em Sergipe no século XIX”.
Nesse escrito, Péricles Júnior descreve, sumariamente, a organização administrativa da Igreja – de uma vigararia e nove freguesias no início do século XIX para trinta e quatro freguesias cem anos depois. Trata também da função dos templos e irmandades e da formação do clero – moldado na Bahia sob a orientação romanizadora (tridentina) do reformista Dom Romualdo Seixas (1787/1860). Desse ponto em diante, o que se vê no texto são as diversas iniciativas do novo clero – “de ‘vida santa’ e ‘ilibada’” – no sentido de disciplinar e purificar as práticas religiosas. Afirma-se que as irmandades e confrarias foram monitoradas; comunitários perderam a autonomia sobre suas capelas; os templos deixaram de funcionar como cemitérios; os cultos aos santos – práticas domésticas (familiares) e públicas (em praça e na rua) – foram restringidos aos párocos e “honrados pais de família” e envoltos em clima de sobriedade. Em síntese, sob o olhar atento ao discurso dos pastores, o que Péricles anuncia acerca do século XIX é a ocorrência de uma mudança de orientação da Igreja e o emprego de um (novo?) padrão civilizador para a educação dos sergipenses.
Não farei considerações sociológicas, se a idéias de “campo” e de “capital simbólico” foram fundamentais para a interpretação do discurso dos clérigos, recolhido nas dezenas de missivas consultadas no APES etc. Apenas, saúdo a iniciativa e sugiro a continuação do trabalho, pondo os olhos, agora (sem a vulgata foucaultiana do “efeito disciplinador”), sobre um outro tipo de discurso: o dos presidentes da Província. Lá, nos relatórios e mensagens, repousam preciosos indícios da importância da missão e também do fardo administrativo que parte desse clero representava para o Estado. Um peso absorvido nos anos 1830, quem têm seu ponto culminante nos anos 1840, com queda abrupta na década seguinte, regredindo progressivamente até a instauração do regime republicano.
A mim, do texto, bastam as imagens fornecidas sobre as práticas religiosas e a resultante da manipulação de uma seqüência de nomes de autoridades eclesiásticas, de datas de criação de freguesias e de costumeiras “reclamações ao bispo”: a sugestão de que a história da devoção católica em Sergipe é também (e, sobretudo) a história de um conflito entre um catolicismo popular e um catolicismo reformado; entre religiosos de formação vária; entre leigos de traços étnicos e de capital econômico diferenciados – conflito esse para o qual  foram chamados a intervir o “aparato policial e as posturas municipais” com o fito de fazer valer os novos “padrões de decoro e de moralidade” do novo clero. (p. 397).
Durante a feitura da dissertação, Péricles Júnior deve ter sofrido os condicionamentos da mudança de área. Ele graduou-se em História, fez mestrado em Ciências Sociais. Não é improvável que tenha ouvido coisas do tipo “a diacronia não nos interessa”, “a pesquisa arquivística não é indispensável” etc. Mas, bem o sabemos: um pé na crítica histórica, na dúvida metódica e no trabalho com fontes coevas, mais que desvirtuar, enriquece a formação desse futuro sociólogo quase doutor pela UFPE, que põe ênfase na atribuição de sentidos sob fórmulas de Pierre Bourdieu.
Não obstante as velhas e compreensíveis lutas identitárias entre sociologia e história, o capítulo sobre a Igreja Católica acrescenta uma boa pá de terra nas crateras dessa desconhecida estrada que é o nosso século XIX. Além disso, credencia o autor para a construção de uma síntese sobre o tema. Atualmente, pela orientação e pela experiência, é o profissional em Sergipe que melhor domina os instrumentos requeridos para essa tarefa.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. A Igreja Católica em Sergipe no século XIX. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 21 out. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumário desta obra, acesse: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.


Fonte da imagem:
Foto: Igreja de Comandaroba, em Laranjeiras – SE

domingo, 17 de outubro de 2004

Entre poeta e historiador

História não é literatura, dizem a maioria dos historiadores. A história materializa-se na escritura e sob determinadas fórmulas literárias, afirmam alguns heréticos. Hoje, a primeira posição é hegemônica – história não é arte, é ciência –, e a escada que separa os departamentos de História e de Letras na UFS é o resultado das lutas de cinco gerações de historiadores para assegurarem um lugar ao sol dentro da universidade moderna. Em cento e cinqüenta anos, buscando identidade, a história já expulsou – pelo menos tentou expulsar – o “especulativo” (da filosofia), o mecanicismo (das ciências físico-naturais) e a subjetividade e a ornamentação (da atividade literária stricto sensu).
Mas, nem sempre essa relação foi assim, tensa; antes fora tênue. Em meados do século XIX, sem campos científicos definidos, sem cursos de licenciatura em história, disputas por empregos ou financiamento público para pesquisa etc., o homem da escrita era concomitantemente um ficcionista e um “realista”, um contador de histórias. Vejam-se os casos do poeta inglês Robert Southey, confrade do Walter Scott e autor de History of Brazil (1810/1919); de Gonçalves Dias, o poeta do “minha terra tem palmeiras...” e um dos primeiros pesquisadores oficiais de história local e de história do Brasil (1854/1856); e também o exemplo – sem intenção comparativa com os precedentes – do sancristovense José Joaquim de Oliveira (1820/1872), que escreveu as Histórias perdidas de Simão Dias (1867).
Em nosso Joaquim de Oliveira, não há como distinguir uma migração da poética para a história. Isso já fora flagrado em Southey e Dias. Os poucos escritos de Oliveira ainda aguardam um analista. Dos Apontamentos para a história de Sergipe, Relatório da Tesouraria Provincial (1860), Limites de Sergipe com a Bahia (1864) e Histórias perdidas (1864), apenas este último – que narra a “história de Simão Dias de carne e osso, e a de Simão Dias de pedra e barro, a história de um homem e a história de uma vila” – chamou a atenção dos intelectuais sergipanos. Chamou a atenção e deu trabalho aos críticos. Jackson da Silva Lima (1986), garimpeiro-mor da literatura local, relacionou as Histórias perdidas com o ofício do “romancista”; Carvalho Deda (1967), “pesquisador diletante” da história de Simão Dias, referiu-se à jóia como uma “composição de sabor histórico-literário”, e o Carvalho Lima Júnior (1927), historiador do século XIX, não teve dúvidas: era obra de história, embora, “às vezes, romanceada.”
Quem quer que se habilite a conhecer essa passagem da história de Sergipe – presença dos holandeses, funcionamento do judiciário, rústicos modos de vida no século XVII, a ação da coroa nos sertões de Itabaiana etc. –, deve resguardar-se de rotular as histórias de Joaquim de Oliveira (pré-história, pós-literatura etc.) e deixar o dezenove falar. Essa atitude compreensiva não impedirá, entretanto, que o leitor identifique nas Histórias o traço ficcional, inventivo e recriador do cristovense, por exemplo, no esforço pela verossimilhança estampado na fala do personagem principal – Simão Dias – como o fez Lima Júnior, e no emprego do discurso direto. Também será difícil não localizar o traço do historiador erudito de meados do século XIX: a pesquisa em arquivos, as fontes cartorárias, as notas em pé de página, o passado pelo passado e somente o passado.
De seguro, todavia, o leitor de Joaquim de Oliveira terá o fato de as Histórias perdidas de Simão Dias representarem um dos primeiros subprodutos da pesquisa histórica pública, ou seja, financiada pelo governo da Província; um marco na escrita histórica sobre Sergipe em Sergipe. A hipótese não é minha. Ela ganha fundamento no comentário de Carvalho Lima Júnior: “o Dr. Joaquim Oliveira romantizou o fato histórico; depreende-se, porém, que não alterou a substância, e que inspirou-se em fonte legítima: os autos da denúncia encontrados em São Cristóvão nas suas pesquisas, talvez quando estudou a questão de nossos limites do Oeste, em 1864, a mandado do presidente da Província, Antonio Dias Coelho e Melo.” (Lima Júnior, 1927, p. 29).
Como “aperitivo poético”, segue-se um trecho das “Histórias perdidas de Simão Dias”, no ponto em que Joaquim José de Oliveira começa a destruir a metáfora que assemelhava o ofício do ficcionista ao do historiador.
“Silêncio!!!...
Estamos em um cemitério.
É um âmbito coberto e fechado, que mede vinte palmos de frente, sobre trinta de fundo, e vinte de altura.
Encostados ao panos das paredes laterais, vêem-se espaços quadrangulares, formados pelo cruzamento de tábuas verticais e horizontais.
Cada espaço é uma sepultura.
Cada sepultura recebe vinte a trinta cadáveres (...)
– Mas, quem são os teus defuntos?
– Esperem, leitores, ouçam: ‘Os meus defuntos só me contam o passado, e ignoram o presente e o futuro, como bons finados que são. Eles me referem os instintos e pequ[en]ices dos nossos avós, seus amores e contendas, sua vida e seus costumes, sua paz e suas guerras, os usos de que usavam, os gostos de que gostavam, o pão que comiam, a roupa que vestiam...’
– Mas, enfim, que defuntos são estes?
– A[r]re! Caríssimos leitores! Tendes uma pressa de quem vai receber da Nationale o seguro de vida após trinta anos. Primeiramente é preciso conhecer o cemitério.
– O cemitério?...
– São os cartórios.
– Oh!...os defuntos?
– São os autos.
– E o coveiro são os tabeliães.
– Está dito: é isto mesmo.” (Oliveira, 1867, in: Lima, 1986, p. 383).

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Entre poeta e historiador. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 17 out. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumario desta obra, acesse o link: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.

domingo, 3 de outubro de 2004

O Gabinete de Leitura Tobias Barreto

Circulating libraries ou gabinetes de leitura eram instituições privadas que alugavam livros e periódicos a baixos preços para populações citadinas no Reino Unido, França e Portugal, entre a segunda metade do século XVIII e o século XIX. Com a veiculação de romances nos jornais, a massificação da instrução pública e a impressão de livros baratos, essa forma de negociar a literatura foi se extinguindo no final do dezenove.
Isso ocorreu do outro lado do mundo (Cf. Esteves, 1984; Taborda s.d.t). No Rio de Janeiro e na Província de Sergipe, a instituição gabinete de leitura ganhou significado diferente naqueles tempos da monarquia. Eles ainda emprestavam livros, mas sua feição, longe de ser a de um pequeno negócio, estava próxima à de uma confraria de letrados. Gabinetes de leitura agregavam as funções de animar – preencher o ócio dos proprietários e dos pequenos burgueses – e instruir – facilitando a circulação de impressos entre camponeses e operários semiletrados.
É sugestivo, portanto, que o nosso primeiro gabinete (1877) tenha se localizado no próspero entreposto de Maruim. É também exemplar que a crescente Aracaju, apesar de possuir uma biblioteca pública desde a sua fundação (1855) – ou, pelo menos, um acervo de livros destinado a esse fim – tenha assistido ao nascimento dos gabinetes literários Sergipano (1871) e Tobias Barreto (1889) por iniciativas da sociedade civil. Tratemos um pouco desse último.
Não se havia ainda celebrado a missa de trigésimo dia pelo falecimento do filósofo de Campos, e esse ilustre intelectual sergipano já recebia as primeiras homenagens com cores memorialísticas. Fundava-se, a 21 de julho de 1889, o Gabinete Literário Tobias Barreto. A instituição, entretanto, parece não ter correspondido ao empenho do seu patrono no que diz respeito aos progressos da atividade científico-literária brasileira. Considerando-se o Relatório do seu [terceiro] presidente, Etelvino de Menezes Prado, a situação do grêmio era deprimente. O “desleixo” e a indiferença das diretorias eram patentes: um vice-presidente que não comparecia, o secretário que não redigia as atas, um tesoureiro que se apropriava das rendas sem prestar contas dos gastos, um orador indiferente às suas tarefas cotidianas, os presidentes que não produziam relatórios sobre suas gestões etc. (Cf. Arquivo do IHGS, cx. 15, doc. 6)
Etelvino bem que se esforçou para “animar a sociedade e proporcionar meios de distração e ilustração aos sócios”: fundou a Gazeta de Domingo – que não chegou à nona edição; reformou os estatutos da casa, mas não os pôde imprimir. Queria alugar uma casa com mobília, uma sede apresentável, e constituir um acervo. Esses planos, porém, esbarravam com “o esfacelamento da Sociedade, aliás, sem razão para isso, [com] o desânimo dos sócios, já em número muito limitado e finalmente [com] a retirada de muitos sócios do Estado de Sergipe para outros Estados do Brasil”, a exemplo de “Sérgio Martins Fontes, Odilon Coriolano de Azevedo, Elias Augusto Coelho Cintra, Augusto Acciole Prado, Ernesto de França Mello, Francisco Martins Fontes, João de Souza Teles e Gonçalo de Souza Campos.” (fl. 5-6).
Para se construir uma imagem do movimento (?) de leitores do Gabinete, bastam os números do seu acervo: dois “romances” de Júlio Verne – Cinco semanas em um balão e Três russos e três ingleses – e um retrato de Tobias Barreto.
Nesses termos, é muito improvável que o “calor bibliotecófilo que reinava na Corte e nas províncias do Império”, desde 1872, tenha contribuído para reforçar o “entusiasmo” dos sergipanos em todas as lutas “contra o obscurantismo”, como sugeriu Epifânio Dória. Ele mesmo afirmou que a nossa mais importante biblioteca – a pública – “passou... uma existência vegetativa, arrastando uma vida ignorada, entregue ao maior desprezo”, entre 1880 e 1889 (Dória, 1942, p. 87-89).
Alvíssaras na difusão dessa prática de leitura somente no governo republicano de Felisbelo Freire, que criou uma biblioteca e um museu em Aracaju (27/3/1890). Mas, teria a República irrigado de sangue novo a sociedade sergipana? Laudelino, sócio do Gabinete de Leitura e irmão do presidente Freire, não confirma a hipótese. (Cf Freire, 1900).
Testis unus, testis nullus – uma testemunha, testemunha nenhuma. Únicas (isoladas) eram até o mês passado, para mim, as evidências de Etelvino Prado e de Laudelino Freire. Mas, ao compararmos as duas falas, salvam-se os testemunhos e recuperam-se informações preciosas sobre a nossa vida espiritual no final do século XIX. Desinteressados e desanimados estavam os sócios do Gabinete; anêmica e apática era a vida “cultural” (não tenho como evitar essa palavra) sergipana. Para Etelvino, o motivo estava no desleixo das pessoas e na migração de cérebros. Para Laudelino, a atividade política (opressora) e a “falta de moços” explicavam o marasmo. Aqui não se praticavam regatas, esgrima, ginástica, equitação; não vingavam os periódicos [literários], nem as sociedades lítero-recreativas.
Tudo isso ocorria há cem anos, quando as elites econômicas provinham do campo e o Estado empenhava-se em resolver questões mais relevantes do que, por exemplo, a elaboração de uma política cultural stricto sensu. E hoje?...
Não sou pessimista e nem ignoro as mudanças. Avançamos muito. Mas, a insensibilidade de empresários e a fragilidade dos instrumentos do Estado na tarefa de preservação da memória local me obrigam a pensar na angústia de Laudelino Freire e a interrogar se não seria um dos traços das nossas elites um certo conluio com o obscurantismo, para não dizer, com a ignorância.

Para citar este texto
OLIVEIRA, Itamar Freitas de. O Gabinete de Leitura Tobias Barreto. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 03 out. 2004.<http://itamarfo.blogspot.com/2004/10/o-gabinete-de-leitura-tobias-barreto.html>.


Referências
FREITAS, Itamar. O movimento intelectual em Sergipe. In: Historiografia e identidade na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Rio de Janeiro, 2000. Dissertação (Mestrado em História Social) – Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro. p. 37-69.
VITÓRIO. Cristiane. A “República das letras” em Sergipe (1889/1930). São Cristóvão, 2001. Monografia (Licenciatura em História) – Departamento de História, Universidade Federal de Sergipe.
ESTEVES, Rosa. Gabinetes de leitura em Portugal no século XIX (1815/1853). Revista da Universidade de Aveiro: Letras. Aveiro, n. 1, p. 213-235, 1984.
TABORDA, Humberto. História do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (Primeiro centenário) 1837/1937). s. d. t.
KURTZ, Robert. O declínio da classe média. Jornal da Cidade, Aracaju, 19 set. 2004. Caderno Mais, p. 5.
FREIRE, Laudelino. O Almanaque Sergipano. Almanaque Sergipano, Aracaju p. 293-302, 1900.
DÓRIA, Epifânio da Fonseca. A Biblioteca Provincial de Sergipe: elementos para a sua história. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, v. 9, n. 16, p. 75-89.
PRADO, Etelvino de Menezes Prado. Relatório apresentado na sessão de 17 de maio de 1891, que restaurou o “Gabinete Literário Tobias Barreto” fundado no dia 21 de julho de 1889 no Aracaju. Aracaju, 21 mai. 1889. Arquivo do IHGS, caixa n. 15, documento n. 006.
SILVA, Eugênia Andrade Vieira da. A formação intelectual da elite sergipana (1822/1889). São Cristóvão, 2004. Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, Universidade Federal de Sergipe.
SILVA, Clodomir. Imprensa. In: Álbum de Sergipe. São Paulo: Seção de Obras de O Estado de São Paulo, 1920. p. 99-105.
DAMIÃO, Regina Toledo e HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2000.
GUARANÁ, Armindo.  Dicionário biobibliográfico Sergipano. Rio de Janeiro: [Governo do Estado de Sergipe], 1925.

domingo, 26 de setembro de 2004

Os sergipenses de Oliveira Teles

Do mesmo modo que Armindo Guaraná (1848/1924) representa o intelectual sergipano emigrado, Manoel dos Passos de Oliveira Telles (1859/193]5]) faz as vezes dos “doutores que ficaram.” Será que essas diferenças de trajetória modificariam significativamente a forma e a difusão da escrita desses dois tipos dominantes?
Da minha parte, arrisco uma hipótese um tanto excêntrica. Penso que no final do século XIX, os homens de província estavam tão ou mais próximos dos centros de discussão sobre história, filosofia e literatura que nesses tempos de internet. Mas, isso é coisa para ser demonstrada a longo prazo. Aqui, gostaria de revisitar os textos desse sergipanófilo que escrevia ou falava pelos cotovelos e brindou-nos, ainda em vida, com a reescritura dos seus trabalhos na área de história, política, costumes, poesia e crítica literária. Comentemos apenas sobre o Oliveira Telles historiador, partindo do inédito Sergipenses v. 2. (cf. IHGS, Cx. 16, doc. n. 01, 517 p.).
O livro foi reescrito nos mesmos moldes do primeiro volume (1903).  É uma coletânea de notas de memória, falas ou artigos elaborados entre 1871 e 1911, em sua maioria, publicados em jornais e folhetos e comentados pelo próprio autor.
A história, ou melhor, a intenção de registrar e/ou recuperar os fastos sergipenses está presente em vários artigos. Telles já reconhece um princípio cientificista do historiador – “a insuspeição obstinada e indiferente”. Ele também deixa passar um fim pragmático clássico – a história fornece lições sobre o passado – e considera a religião e a política como os mais poderosos motores da experiência humana. Mas, não persegue somente a ação política e, nem de longe, ação religiosa em Sergipe. Quando denuncia a desmemoria sergipana, ele o faz motivado pelo esquecimento coletivo da magnitude de Horácio Hora e do cinqüentenário da fundação de Aracaju.
Da sua terra, São Cristóvão, ele escreve pouco. Num discurso em 1900, anuncia que vai contar a história do município desde 1892. Mas, logo decepciona. A história se resume à informação sobre o fracasso do Partido Municipal. Maior espaço tiveram as efermérides locais e nacionais. (Seriam textos de antigas preleções?).
Sobre o 8 de julho de 1820 e o 24 de outubro de 1822, uma informação instigante: ambas as datas – da emancipação política e da nomeação do primeiro presidente de Sergipe –, representavam a vitória do pensamento liberal em Sergipe. Nos dois eventos, o cristovense destaca a figura do português, radicado em Maruim, José Pinto de Carvalho: o homem que “projetou melhor orientação à rotina política” local, seja forçando a ação de D. João VI – a emancipação fora um meio de barrar o constitucionalismo – seja impedindo a ação reacionária de Carlos Burlamaque – o nosso primeiro presidente teria recusado-se a jurar à Constituição do Porto. (Até hoje, só li histórias que colocavam o José Pinto de Carvalho no rol dos antisergipanos!).
Ainda sobre o 24 de outubro, há descrição antológica: “Nesse dia, as ruas da cidade [estavam] enfeitadas de ramos verdes... Batalhões patrióticos puxavam o carro triunfante onde ia um rapaz imberbe, em vestes americanas, representando o índio Segipe, que cantava sob cada arcada, as aclamações e músicas populares.” (p. 444).
A biografia, o necrológio, o elogio também têm lugar na coletânea de Oliveira Telles. Afonso Celso, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Olímpio Campos, Felisbelo Freire, homens de partido – e do partido do historiador. A escrita auto-referenciada está dispersa – sobretudo, nos textos de crítica literária, nas simpáticas resenhas das obras de Balthazar Góis e Artur Fortes, nos corretivos aplicados a Euclides da Cunha e Alberto Rangel, na resposta aos desafetos, o editorialista do Correio de Aracaju e o sr. Medeiros de Albuquerque. São fontes que, certamente, a graduanda Isabela Chizoline não deixará de consultar para a sua monografia sobre “a intimidade” de Oliveira Telles.
Das suas pistas auto-biográficas e dos comentários em pé de página, dois produtos merecem destaque por situa-lo como precursor de uma história da cultura local. O primeiro, trata da relevância e das dificuldades de se produzir uma “história da imprensa em Sergipe”. Nele, o autor discute os ciclos vitais, os programas, e as posições de alguns redatores e lista os títulos que pôde recuperar de memória ou por intermédio de amigos como Epifânio Dória.
O segundo texto, “Publicações de sergipanos em Sergipe”, recolhe a produção ficcional e científica impressa em tipografias da terra. Para elaborar o que chamou de “estatística”, Oliveira Telles esbarrou com o problema conceitual: o que é ser sergipano? A exemplo do que fez com os termos “popularização (música sergipana) e “dictérios populares” (linguagem popular de Aracaju), o historiador enfrenta a questão e adota uma definição ainda em uso no IHGS: é sergipano o autor que nasceu na terra e também os outros que “voluntariamente sergipanizaram-se e aqui dormem o derradeiro sono.” (p. 150).
Há, nos dois textos, a intenção de firmar-se na memória intelectual como pioneiro. O trabalho sobre literatura, não deixa pistas sobre o seu concorrente – provavelmente, Prado Sampaio. No ensaio sobre a história da imprensa, certamente, o ressentimento aflora em relação ao Armindo Guaraná, que mesmo escrevendo um ano depois de Telles (1907), conseguiu divulgar o seu ensaio por meio do IHGB. Nesse caso, o status de emigrado encarnado por Guaraná fez muita diferença. Haveria mais vantagens? Outras pesquisas o dirão.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Os Sergipenses de Oliveira Telles. A Semana em Foco, Aracaju, p. 10A-10A, 26 set. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
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domingo, 19 de setembro de 2004

Procura-se um biógrafo

Parece estranho que, depois de biografar mais de seiscentas vidas brasileiras, o intelectual Armindo Guaraná ainda não tenha encontrado um biógrafo para a sua própria vida.
Há verbetes sobre o homem no Dicionário que leva o seu nome. Prado Sampaio foi o responsável. O extenso discurso de Damião Mendonça de Santana, pronunciado no centenário de nascimento do sancristovense, também fornece dados sobre a sua experiência pública e privada (Revista do IHGS, 1948, p. 31-55). Por esses trabalhos, pode-se notar o quanto Guaraná “mercadejou” por esse Brasil a fora, estudando ou trabalhando no Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. Mas, os textos são marcados pelas circunstâncias de produção; vinculam-se ao campo da memória. São encomiásticos, como se dizia no início do século passado. Dão poucas mostras do valor da ação do personagem nos campos do magistério, magistratura, ficção, etnografia, geografia e da escrita da história.
Sobre o autor, com alguma sorte, pode-se também flagrar um comentário do seu envolvimento na política local. É o que fez Vladimir Carvalho (2000) em A República velha em Itabaiana. Guaraná foi apresentado como um tipo ideal da relação pouco racional entre as funções judiciárias e executivas nos tempos da monarquia: “como todos os magistrados da época, [Guaraná] ingressa na magistratura sem concurso público, dependendo apenas de indicação política. (...) Não estavam os magistrados imunes à política partidária, nela se imiscuindo de forma intensa. Armindo Guaraná... não fugiu à regra. Seus artigos... retratam a participação ativa do juiz de direito nos negócio políticos, a ponto de estes virem a público.”
Mais estranho ainda é o fato de ele e (ou) a esposa Maria Luiza terem organizado o material inicial para facilitar a tarefa de seu “futuro” historiador – historiadores e políticos, deliberadamente, escrevem e organizam material visando o futuro. No Instituto Histórico e Geográfico, entre outros documentos, ainda fora de catálogo, estão depositadas as sentenças proferidas pelo magistrado Guaraná, os artigos publicados em jornais, as notas sobre a repercussão da sua obra magna e o Dicionário biobibliográfico, lançado em 1925. Desse material, duas informações me prenderam a atenção. A polêmica sobre a sua colaboração no Dicionário de Sacramento Blake e a produção de uma corografia de Itabaiana.
O primeiro dado trata-se, provavelmente, de mais um capítulo na disputa identitária entre os Estados de Sergipe e Bahia. A história é a seguinte: entre 1883 e 1902, o baiano AugustoVitorino Alves Sacramento Blake publicou o Dicionário bibliográfico brasileiro, que logo se tornou referência no assunto.
Quando se divulgava o sétimo e último volume, publicou-se uma fotografia de Blake acompanhado por Guaraná, identificado este último como colaborador do primeiro. De imediato, o jornal Bahia interrogou a Blake sobre a participação do sergipano Armindo na consecução da obra monumental, ao que o autor respondeu: “igonoro”. Infelizmente, o Vitorino já havia declarado, no terceiro volume, que Guaraná, não somente participara na elaboração de verbetes, como contribuíra para que muitos erros fossem extirpados dos demais.
Essa ingratidão desmedida provocou a intervenção de Manuel Curvelo de Mendonça – outro sergipano – e a polêmica ganhou as páginas do Jornal do Brasil. Guaraná saiu em defesa do seu nome. Publicou testemunhos de José Xavier Pires, funcionário da Imprensa Nacional, e de Silvio Romero. Ameaçou invocar o depoimento de Araripe Júnior, Moreira Guimarães, Laudelino Freire, Olavo Bilac, Ramiz Galvão, Rocha Pombo e de outros tantos intelectuais do Pará, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Como trunfo do seu trabalho, [guardou as provas do livro em disputa]. Mas, a grande vingança viria duas décadas depois. Ele produziu um impresso muito bem referenciado no Brasil em termos de levantamento bibliográfico coletivo, que é o nosso Dicionário biobibliográfico Armindo Guaraná.
O outro trabalho que me chamou à curiosidade no acervo foi a sua “Descrição de Itabaiana”. Pela data de publicação (14 nov. 1886) e estrutura textual pode, certamente, tratar-se da primeira corografia publicada em Sergipe. É trabalho sucinto. Segue de perto o esquema das corografias provinciais e municipais publicadas no século XIX. Diríamos hoje, que se trata de uma descrição física – incluindo-se nesse físico, os aspectos econômicos e sociais – como elementos de história política. Depõe sobre a situação geográfica, sobre orografia, hidrografia, condições de salubridade, riquezas minerais, fauna e flora, equipamentos urbanos – edificações, abastecimento de água etc. – demografia, produção agrícola, pecuária, industrial, comercial, instrução pública, situação eclesiástica, judiciária, além de rendas, distâncias em relação as demais localidades da província e “curiosidade natural” – um lago sobre a serra de Itabaiana.
O tópico “história”, como de costume nas corografias, é bem curtinho: os primeiros ocupantes, a primeira propriedade, a ereção da paróquia, delimitação da freguesia e da comarca etc. Mas, a “Descrição” deixa vazar algo de crítico no espírito de Armindo Guaraná quando se propunha a registrar aspectos da vida coletiva. É preciso captar esse tipo de indício, lembrando sempre que os escritos anteriores a 1891 são ainda mais preciosos. É que ainda não existia a História de Sergipe de Freire.
Penso que um futuro biógrafo de Armindo Guaraná poderá dar novo significado  a esses gêneros bastante comuns no século XIX – a biografia, a corografia – e que foram soterrados, inclusive, pela magnitude da síntese de Felisbelo.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Procura-se um biógrafo. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 19 set. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
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domingo, 12 de setembro de 2004

Retalhos de Severiano Cardoso

Severiano Cardoso (1840/1907) é um daqueles sergipanos do século XIX com os quais se tropeça no “pó dos arquivos” com a promessa de monografia. Os elogios endereçados ao personagem por Armindo Guaraná chamam a atenção: “nenhum outro o excedeu em competência e amor à instrução, nem houve quem melhor soubesse difundir o ensino no espírito dos seus jovens discípulos.” (Guaraná, 1925, p. 259). Idênticos qualificativos lhe são atribuídos por Acrísio Torres, para quem o Severiano, além de “precursor” dos dramas infantis em Sergipe, co-responsabilizou-se pela educação das famílias Resende, Franco, Dantas e Campos. (Torres, 1999, p. 28). Também chama a atenção o juízo de Manoel dos Passos de Oliveira Teles, às vésperas da morte do intelectual estanciano: Severiano Cardoso é “o mais notável poeta” de Sergipe.” (Teles, 1907).
Apesar dos louvores, e por ser, até então, considerado um personagem “menor” – diante de um Felisbelo Freire ou dos outros Cardosos da mesma família, – a gente vai protelando a leitura, até que um dia ele se impõe como objeto de pesquisa. Para mim, Severiano ganhou importância em 2002 quando li, no Almanaque Sergipano (1899, p. 242-256) a sucinta monografia “Lagarto: história e costumes”, um texto singular para a historiografia do final do século XIX em termos de temática e de didaticidade. (Há juízo inédito de Ibarê Dantas sobre esse trabalho, produzido em 2002). 
Depois do encontro no Almanaque, ouvi o comentário de Jorge Carvalho que “flagrou” o Severiano ganhando uma “ajudinha” do irmão Brício Cardoso no aparelho do Estado. Brício determinou o emprego de hinos escolares em Aracaju. e o Severiano foi chamado para criar as peças.
Christianne Gally também encrencou uma vez com o poeta. Ao estudar o Brício Cardoso, a moça das gramáticas começou a suspeitar que as peças teatrais assinadas por Severiano poderiam ter o mano como verdadeiro autor. Não foi à frente com a suspeita, porém.
Este ano, Vera dos Santos trouxe a mais grata surpresa sobre Severiano. Ao estudar A geografia e os seus livros didáticos sobre Sergipe (NPGED/UFS, 2004), anunciou a intenção de Severiano Cardoso de produzir um livro didático sobre a matéria.
Neste mês de agosto, por fim, Severiano Cardoso foi notícia, novamente, quando Aglaé Alencar colocou os estagiários do IHGS em guarda para localizar a literatura teatral desse escritor. Não foi por acaso. Severiano é o patrono da cadeira n. 12, da Academia Sergipana de Letras, ocupada agora pela referida professora, também musicista e dramaturga.
Como afirmei, já conhecia a verve de historiador, pelas páginas do Almanaque Sergipano. Mas, não sabia que o “Lagarto: história e costumes” tratava-se apenas de um fragmento. O texto é parte constituinte de um trabalho didático que teve a escritura, provavelmente, abandonada na última década do século XIX. Um livro de corografia.
Mas, o que vem a ser uma corografia? Os dicionários da língua portuguesa, publicados no século XIX, conservaram o significado de descrição de uma localidade em particular. Morais Silva (1813) referia-se a “reino” ou “região”, Silva Pinto (1832) “de uma terra”, Eduardo de Faria (1850), “de um país”. Foi Domingos Vieira (1873) quem registrou sentido mais preciso, repetido no século XX por Laudelino Freire (1940), Caldas Aulete (1958) e Aurélio Buarque de Holanda (1975): “descrição de um país, assim como a geografia é a descrição da terra, e a topografia a de um lugar particular.” (p. 216, v. 2).
A precisão de Domingos Vieira informa sobre o estatuto da ciência da geografia e também sobre a presença da corografia na educação intelectual da segunda metade do século XIX. A Corografia brasílica (1817, 1933) de Manuel Aires de Casal (1754/1834) é a primeira obra que vem à memória. Ela serviu de modelo às diversas iniciativas regionais, provinciais, municipais etc. de descrever os aspectos físicos e políticos desses recortes espaciais por todo o período monárquico.
Ocorre que num tempo onde os saberes não estavam bem delimitados não era tão clara a definição de uma corografia como obra específica de geografia. O próprio “pai da geografia” brasileira, Aires de Casal, expressou a dubiedade no título do seu trabalho: Corografia brasílica ou relação histórico-geográfica do reino do Brasil. Como isso, quero dizer que, independentemente das conclusões a que cheguemos sobre o emprego da expressão “corografia”, a narrativa histórica estava lá em Casal, Silva Lisboa, e em Laudelino Freire. Também fez parte da suposta corografia de Severiano, que (pelo menos, para mim) continuaria hibernando no arquivo do IHGS, provavelmente, não fosse o toque oportuno de Vera dos Santos.
Os originais constam de cinqüenta e seis folhas escritas à mão. Parece tratar-se de um rascunho de obra inacabada. Não traz assinatura, nem título e se inicia com uma “notícia histórica” sobre o Estado de Sergipe. Seguem-se-lhes a situação, limites, aspectos físicos, clima, salubridade, orografia, hidrografia e os textos sobre cidades vilas e povoados.
O autor não se estendeu muito sobre o “Estado” de Sergipe. Quarenta e sete páginas foram dedicadas às cidades de Aracaju, Estância, Maruim, Propriá, Lagarto, São Cristóvão, Itabaiana, Capela, Riachuelo, Campos e Riachão. Há fragmentos sobre o rio Poxim também. Mas, o maior espaço entre as localidades foi destinado às cidades de Lagarto e Aracaju. Como o escrito sobre a terra “papa-jaca” já foi divulgado no Almanaque, reservarei maior atenção sobre o que Severiano disse da cidade de Aracaju há pouco mais de um século.
* * *
Na semana passada (A Semana, 29 ago./04 set.), fiz alguns registros sobre a figura do educador, poeta e escritor  Severiano Maurício Cardoso (1840/1907) e do interesse que a sua obra tem despertado nos últimos meses. Também dei notícia sobre uma suposta obra de corografia, escrita, provavelmente, na última década de 1890. Por que Severiano não foi à frente com o livro didático? Existe outro original dessa obra? Silva Lisboa e Laudelino Freire teriam-no cortado o caminho, publicando as suas corografias em tempo recorde? Não arriscamos opiniões. É mais urgente proceder uma crítica de autoria para confirmá-lo como o autor do manuscrito que se encontra no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Os verbetes que tratam das cidades de Aracaju, Estância, Maruim, Propriá, Lagarto, São Cristóvão, Itabaiana, Capela, Riachuelo, Campos e Riachão seguem de perto uma grade diplomática que se espelha em parte na descrição efetuada sobre o Estado de Sergipe. Eles informam sobre o número de habitantes, a situação geográfica, dão notícia histórica sobre a fundação, o estado geral de ruas praças e edifícios, a atividade produtiva – comércio indústria e serviços, aspectos sobre a salubridade, os equipamentos escolares e relação sucinta de povoados.
A Aracaju de Severiano Cardoso é cidade “ainda nova”. Era nova também para Silva Lisboa (Corografia...) que a ela se referia como “a nova capital” nos idos de 1897. Talvez por isso, trate pouco do seu passado, muito menos que sobre o de Estância e de Lagarto. Pode ser sensato pensar também que a ausência da diacronia seja um traço dominante do gênero – corografia. Trata-se mais de um flagrante sobre a economia e os equipamentos que denotam a urbanidade da jovem Capital.
Tinha então quinze mil habitantes, quatro praças, vinte e duas ruas que não ultrapassavam a extensão de aproximadamente quatro quilômetros... Segue Severiano a listar edificações, a contabilizar estabelecimentos públicos e residenciais, e a comentar sobre o movimento comercial da cidade. Tudo muito ligeiro e resumido. Mas, para bom entendedor, suas quase-listas oferecem, pelo menos, quatro informações importantes sobre a história social de Aracaju.
A primeira está ligada ao mundo do trabalho. A sua tipologia das empresas até então existentes sugere uma hierarquia que contempla a malha da atividade produtiva. Começa com a grande companhia de rebocagem de navios, os serviços tipográficos, bancários, de hotelaria; passa pelas fábricas, pelo comércio de fazendas, ferragens e de bebidas e prossegue com uma gama de pequenos negócios: botequins, bodegas, farmácias, padarias, relojoaria, açougue, confeitaria, ferreiro, marceneiro, sapateiro, tamanqueiro, funileiro, cocheiro, encanador, ourives, fogueteiro, carvoeiro e latoeiro.
O segundo dado importante é o comentário sobre a morada dos pobres no final no século XIX. Uma informação carregada de ironia e de forte dose de sergipanismo é o que se pode ver na sua frase: “Existe... um número assaz considerável de casas inferiores, cobertas de telhas ou de palmas de coqueiro, e edificadas sem a mínima regularidade, constituindo os subúrbios (...) que habitam [as] classes mais necessitadas. São moradias pobres, singelas, modestas; mas relativamente limpas, arejadas e claras, alegres, como o povo se exprime, muito distanciadas, no tocante à comodidade e asseio, da cortiçada abjecta imunda que faz a vergonha e a desonra das grandes cidades, sem excluir a opulenta [e] luxuosa capital da nossa esperançosa República.” (Cardoso, 189-, f. 11 v., f. 12, grifos do autor).
As duas últimas notas importantes para a história de Aracaju, longe do verbete sobre a cidade, estão dispersas nos fragmentos sobre a hidrografia de Sergipe e no texto correspondente ao município de São Cristóvão. No início da República, a velha capital estava “em decadência progressiva, após a retirada da sede governamental...quase [arruinada]”, lamentou Severiano. Do alto da colina que abrigava “a melhor edificação da ex-capital” ainda se viam as grandes fendas provocadas pelas chuvas, “enormes [brocas] a que o vulgo chama[va] de barrocões.”
É possível que se trate do famoso barrocão José Aleixo, citado com estardalhaço pelo historiador Sebrão Sobrinho. O mesmo barrocão que o conhecido Armindo Guaraná avaliava como o “maior mal” da sua adorada São Cristóvão. (cf. Guaraná, 1873). O mais interessante da nota de Severiano, todavia, está na importância conferida ao referido fenômeno – o barrocão – provocado pela erosão: “foi essa uma das causas concorrentes para a mudança da capital.” (Cardoso, f. 21).
 Por fim, um dado sobre o rio Aracaju. Conta Severiano que um dos problemas da capital ainda era a carência de “boa água potável”. Já se havia tentado a canalização da água dos rios Pitanga e Poxim para abastecer à população de Aracaju. Até aí, tudo conhecido na historiografia local. A novidade, para mim, foi a notícia do plano de desviar o leito do rio Poxim através de um canal que cortaria a cidade, “engrossando o ribeiro Aracaju, que se lança na Cotinguiba ao pé da fábrica de Tecidos”.
Se realizada fosse a obra, teria sido a sorte grande do ribeiro Aracaju. Além de dar de beber aos moradores da capital, seria, muito provavelmente, reconhecido como o rio que dá nome à cidade e ganharia muitas homenagens no ano do sesquicentenário. Mas, isso é uma outra história que o Severiano vai ajudar a contar quando o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe começar a expor o seu acervo relativo aos primeiros tempos da ilustre aniversariante do 17 de março de 2005.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Retalhos de Severiano Cardoso (Final). A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 12 set. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumário desta obra, acesse: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.

domingo, 29 de agosto de 2004

Os tesouros da biblioteca do IHGS

Fachada e brasão do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.Imagem de abertura do site da instituição. Aracaju-SE.
A biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe guarda muitos tesouros. Foi construída ao longo dos noventa e dois anos do grêmio e comporta acervo de aproximadamente cinqüenta mil volumes entre periódicos, folhetos, separatas e livros. É uma pena que somente 10% desse patrimônio seja do conhecimento da geração nascida com a Universidade. Os catálogos são insuficientes. Qualquer esforço de organização profissional de um conjunto com tais dimensões consumiria anos de trabalho de uma equipe, ou mesmo a vida de uma pessoa, como foi o caso do esforço de Epifânio Dória.
Mas, com a invenção do microcomputador e o cometimento de algumas heresias em matéria de biblioteconomia, a tarefa pode se tornar exeqüível em alguns meses. Essa foi uma das metas anunciadas pela atual diretoria do IHGS, eleita para o biênio 2004/2005. Trilhando pelas orientações do presidente – “socialize tudo, mas não destrua o que já foi feito” –, os atuais responsáveis pelo acervo têm o prazer de comunicar os primeiros passos dessa reorganização.
Em cento e cinqüenta dias de trabalho, já é possível ter acesso a 100% de, pelo menos, três importantes coleções: a coleção João Faria (AG), o acervo de obras de referência (OR)  e conjunto bibliográfico da Sessão Sergipana (SS).
Diêgo Freitas e Christinilton Gally
(estagiários) em trabalho de higienização.
Acervo bibliográfico do IHGS
em processo de separação.
A primeira coleção constituiu-se a partir das “doações honrosas” do desembargador João Fontes Faria. É composta por mil e setenta e quatro obras sobre história da arte, literatura, história do Brasil. Há também coleções de periódicos de circulação nacional como Vamos Ler, enciclopédias e bibliografia de autores sergipanos. Para avaliar a nobreza do ato do dr. João Faria, hoje sócio benemérito do Instituto, remeto o leitor ao artigo de Ibarê Dantas, publicado em junho último (“Doações honrosas”. Jornal da Cidade, 24 jun. 2004).
A segunda coleção possui trezentos e noventa exemplares de enciclopédias e dicionários. Na rubrica enciclopédias (e assemelhados) estão as conhecidas Barsa e Larrouse, bastante úteis aos eruditos e aos estudantes do ensino fundamental e médio. Mas, também compõe o acervo as grandes coleções que tratam da história das civilizações, história da arte e um rico repositório sobre uma centena de gênios da pintura universal.
Em primeiro plano, Saionara
Nascimento (estagiária) registra
os livros em banco de dados.
Os dicionários, que fazem a delícia do escrevinhador, estão situados na sala de leitura do IHGS. São de todo tipo: há os de sinônimos, etimológicos, prosódicos e os de definição – em língua portuguesa, inglesa, alemã, italiana, persa, latina, tupi, yorubá. Há também dicionários especiais – de história, corografia, de artistas, educadores, historiadores, de genealogia, filosofia, política, geologia, mitologia, de fábula, folclore, temas populares, gíria, provérbios, de plantas úteis e de vida sexual. Os dicionários biográficos ou biobibliográficos são os mais numerosos, depois dos de língua portuguesa. Cobrem autores sergipanos, paulistas, cearenses e brasileiros de forma geral.
Entre os raros, pelo ano de produção, a Biblioteca do IHGS guarda uma dúzia de volumes do Dictionnaire Philosophique, de Voltaire (1827, 1829), o Magnum Lexicon Novissimum Latinum et Lusitanum (1846), alguns títulos da língua brasileira/lusitana editados em 1813, 1832, 1850, 1873, 1899, e também os prestigiados do século passado, como Caldas Aulete (1958), Laudelino Freire (1939) e Antenor Nascentes (1958).
O último tesouro organizado foi o conjunto de livros folhetos e separatas da Sessão Sergipana. Sob essa rubrica, sucessivas gerações dos sócios do IHGS reuniram peças submetidas a três critérios: 1) ser obra de sergipano nato; 2) ser obra de autor aqui radicado; 3) obra que trate de Sergipe, de sergipanos ou de autores aqui radicados. O acervo já chegou a três mil e trezentos títulos, produzidos por mil autores, aproximadamente.
Entre os contribuintes vivos, seguem imbatíveis o Governador João Alves Filho (65 títulos) e Maria Thétis Nunes (28). Das instituições, o Governo do Estado está na dianteira da produção, seguido da Universidade Federal de Sergipe e da Prefeitura municipal de Aracaju.
Biblioteca do IHGS em fase final
de organização. Foto: Acervo do
IHGS (2008).
Biblioteca do IHGS em fase final
de organização. Ao fundo, estagiário
em atividade. Foto: Acervo do IHGS (2008).
Esses números, evidentemente, nada podem informar sobre o perfil dos autores e livros. Mas, não deixam de ser indiciários sobre a política de recolhimento da bibliografia sergipana encetada pelo Instituto. Esses dados são também indicadores do interesse de alguns pela conservação de seus feitos na história de Sergipe. Não há classificação por assunto. Contudo, um exame de sobrevôo basta para verificar que a contribuição literária strictu sensu foi diminuta em relação às obras de ciências humanas e sociais e aos relatórios administrativos.
O leitor mais rigoroso estranhará a presença de roteiros e até mesmo de catálogos telefônicos. Também estranhei, a princípio. Mas, lá estão e lá ficarão.O próprio tempo de moradia de tais publicações no acervo já lhes concedeu legitimidade e cidadania. Quem descartaria um guia de Aracaju com esboços a mão livre de uma Aracaju dos anos 1950, limitada entre o bairro industrial e o rio Tramandai? Quem descartaria originais de peças teatrais do século XIX, produzidas por Severiano Cardoso simplesmente pelo fato de não estarem impressas?
Todo esse acervo foi inventariado e catalogado por bolsistas do curso de licenciatura em história da Universidade Federal de Sergipe, financiados pela própria UFS e, principalmente, pela Secretaria de Governo da Prefeitura Municipal de Aracaju, a quem o Instituto não cansará de agradecer. Mas, o melhor de tudo mesmo é que esse acervo já está à disposição dos leitores. O IHGS aguarda a sua visita e também a sua contribuição.


Fontes das imagens
Fachada e brasão do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. <http://www.ihgse.com.br>. Acesso em 27 nov. 2010.
Biblioteca do IHGS em fase final de organização. Ao fundo, estagiário em atividade / Biblioteca do IHGS em fase final de organização. <http://www.ihgse.com.br/biblioteca.asp>. Acesso em 27 nov. 2010.
Material em processo de separação / Biblioteca do IHGS em fase final de organização / Saionara Nascimento (estagiária) registra os livros em banco de dados. Acervo de Itamar Freitas.



Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Os tesouros da biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 29 ago. 2004.<http://itamarfo.blogspot.com/2010/10/biblioteca-do-instituto-historico-e.html>