domingo, 31 de agosto de 2003

Sobre palavra "Sergipe": a versão de João Vampré

O estanciano João Vampré (1868/1949) chegou à província de São Paulo aos dezoito anos de idade, radicando-se em Limeira e, depois, na capital paulista. Fez nome como jornalista e historiador dos costumes – folclorista, diziam no início do século XX – nas páginas do Diário Popular, no Comércio de São Paulo, Correio de São Paulo, Correio Paulistano e no Estado de São Paulo. Da terra bandeirante, retratou as festas de São João, Corpus Christi, da Santa Cruz do Pocinho, a dança dos Caiapós, e a figura de Fernão Dias Pais (cf. Guaraná, 1925, p. 148; Cordeiro, 1949, p. 288-289; Lima, 1984, p. 80).
Não deveria o Vampré ser pouco expressivo nesta São Paulo que ensaiava saltar de vila provinciana à metrópole, no final do século XIX, haja vista a sua participação como sócio fundador da Academia Paulista de Letras no distante 1909. Como dizem alguns enciumados, seria mais um desses curiosos personagens que, por absurda casualidade, insistira em nascer no modesto Sergipe, como os Joões Ribeiro da vida.
Ocorre que o literato João Vampré não parece ter rompido em definitivo os laços com a terra mãe e nem é de todo improvável que nela tenha exercitado o olhar antropológico que tanta projeção lhe trouxera em São Paulo. Prova-o seu trabalho sobre “O natal em Sergipe”, editado em italiano, bem como o verbete que discute o significado do vocábulo que dá nome ao nosso Estado.
O verbete foi publicado da Revista de Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, n. 43, p. 25-26, set./out. 1926), veículo dirigido por Laudelino Freire – outro sergipano “acidental” – e faz parte de uma série de comentários filológicos divulgados nesse e em outros periódicos. Tais comentários foram, provavelmente, organizados no trabalho intitulado “Influência do Tupi nos nomes geográficos” (Rio de Janeiro, 1938/1940).
João Vampré (1868/1949)
O único juízo que colhi sobre o Vampré tupinólogo não lhe foi muito favorável. Plínio Airosa, primeiro professor de Etnologia brasileira e Língua tupi-grarani, da Universidade de São Paulo, classificou o sergipano de “curioso” e ao seu trabalho como de “valor muito reduzido” (Airosa, 1954, p. 39-40). Como as verdades mudam de dono conforme o tempo e a embalagem, segue a transcrição paleográfica do étimo “Sergipe”, quase noventa anos após a primeira divulgação para que o leitor sergipano tire as suas próprias conclusões.
“O Brasil offerece um quinhão original no estudo da sua toponymia, na maior parte derivada da raça aborigene.
‘Quase todos os nossos nomes naturalisticos e geographicos’, como escreve o profundo polygrapho João Ribeiro, ‘dimanam dessa fecunda fonte que desalterou a imaginação primitiva. E os conquistadores, que tudo destruiram, não puderam apagar do arvoredo, dos rios e das montanhas essas vozes claras e sonora que ainda hoje palpitam e agonizam sobre o destroço das tribus vencidas”. Despertado por esta ordem de idéas, peço venia ao eminente patricio citado, a que consagro estas linhas, para tentar uma explicação da origem controvertida da palavra Sergipe. A lexeogenia do referido vocabulo, corruptela de Cerijipe ou Sirigipe, primitivo nome da illha de Villegaignon e assim graphado nos mais antigos documentos, não pode ser entendida senão pelos agrupamentos dos adjectivos adverbiaes Ceri e ipe, ligados pelo relativo j, como ensinaram os padres Montoya e Luiz Figueira, nas suas grammaticas da lingua tupy.
Manuseando o diccionario de Montoya, vê-se que Ceri significa ‘pouco’ e ipe ‘perto’. Os indigenas quizeram referir-se á situação de outros aldeamentos que ficavam mais afastados do ponto da sua taba principal; pretenderam elles designar por este termo idéa analoga á que exprimimos pelo temo ‘sertão’, isto é, ponto afastado ou pouco proximo. A consoante j introduzida no vocapulario tupy, por influencia portugueza, exprime relatividade da distancia em razão do ponto em que elles se achavam. Os relativos e os reciprocos têm grande valor na lingua geral dos indios, como ensinaram os referidos indianologos; o relativo j é empregado para substituir o primitivo i, quando o nome a que se liga principia por vogal, como se verificou no latim em relação ás linguas modernas que delle se derivaram. Assim, em vez de jaguara, japy, japecanga, se diriam primitivamente: iaguara iapy e iapecanga.
Se da propria estructura do vocabulo ‘Cerijipe’, sem alteração alguma, resulta uma significação propria, não temos o direito de dar-lhe semantica estranha, tal como ‘Rio de siris’ e outras.
Cada vez mais me convenço da affirmativa do padre Ives d’Evreux, na investigação dos nomes tupys, aplicados aos logares.
‘Os indigenas, muito sabios na formação dos designativos locais, compunham taes nomes, após deliberação em conselho, assignalando caractéres physicos da coisa nomeada, ou factos permanentes, taes como molestias endemicas, perigos constantes, etc.’
O systema geographico e´, além disso, o unico que acha conformação na estructura grammatical da lingua tupy e o que menos se presta a corrupções. Assim, a palavra ‘Ciará’ composta do relativo ‘Ci’ e do nome ‘araá’ que significa ‘molestia do calor’, como se pode verificar no lexico de Montoya, exprime perfeitamente um logar sujeito aos perigos da sêca.
Em nossa vaidosa presunção, vivemos a suppor que o indio barbaro na predicação dos nomes é tão futil como nós outros civilizados.”

Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. Da palavra 'Sergipe': a versão de João Vampré. Jornal da Cidade, Aracaju, 31 ago. 2003.

Saiba mais sobre Vampré:
"Vampré -Uma família sergipana em São Paulo", de Luiz Antônio Barreto. http://infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=94267&titulo=Luis_Antonio_Barreto

Fontes das imagens

Referências bibliográficas
LIMA, Jáckson da Silva. Os estudos antropológicos, etnográficos e folclóricos em Sergipe. Aracaju: governo do Estado de Sergipe/Secretaria de Estado da Educação e Cultura/Subsecretaria de Cultura e Arte, 1984.
VAMPRÉ, João. Étimo do vocábulo “Sergipe”. Revista de Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, n. 43, p. 25-26, set./out. 1926.
VAMPRÉ, João. A influência do tupi nos nomes geográficos. An. Hidrog. Mar. Brasil, Rio de Janeiro, 1938/1940. (Obra não consultada).
AIROSA, Plínio. Primeiras noções de Tupi. São Paulo: sn, 1933.
AIROSA, Plínio. Apontamentos para a bibliografia da língua tupi-guarani. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, São Paulo, n. 169, 1954. (A primeira edição é de 1943).
SAMPAIO, Teodoro. O tupi na geografia nacional. [São Paulo]: sn, 1928. (“Sergipe, ant. Cirigype, c. ciri-gy-pe, no rio dos siris. Alt. Sirigype, Sirgipe, Sergipe.” p. 306).
CORDEIRO, J. P. Leite. Necrológio de João Vampré. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. 49, p. 288-289, 1949.

domingo, 24 de agosto de 2003

O sergipanismo do historiador Sebrão sobrinho (1898/1973)

A historiografia de Sebrão sobrinho – sobrinho com “s” minúsculo, como nos ensina Vladimir Carvalho – é veículo e instrumento de conformação da identidade sergipana. É uma tentativa de criar tradição, um passado unificado para a pátria de Tobias Barreto. E, como a identidade pressupõe a diferença, em Sebrão, notadamente em seus Fragmentos da História de Sergipe (Aracaju: Regina, 1972), a alteridade personifica-se no vizinho estado da Bahia. A “mulata faceira” é o nosso outro. Sob esse aspecto, o autor radicaliza, ainda nos anos 1970, o discurso fundador da primeira geração de historiadores do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Ele sugere que a experiência da formação social sergipana é, por assim dizer, o roteiro da espoliação dos baianos sobre os habitantes da antiga capitania de Francisco Pereira Coutinho – Sergipe.
Mas, como esse discurso unificador é construído? Sebrão ensina: é preciso reler a documentação cartorária, estudar a etimologia da toponímia local, elaborar genealogias e dissecar os textos de cronistas e historiadores. Todo esforço é válido para sustentar a seguinte tese: o que é da Bahia é de Sergipe, e o que é de Sergipe se integra à Bahia. A Bahia tem a chave para a compreensão de muitos acontecimentos da história local, a começar pela origem do nome “Sergipe”. Diz o autor: “Mem de Sá, que não pôde conquistá-lo, como o fizera à póstera ilha de Villegagnon, lhe dera o nome de Sergipe, em homenagem a seu engenho real [localizado na Bahia] (p. 278); “Sergipe já era denominação do rio baiano, que banha o recôncavo da Mulata Velha” (p. 31). O complemento del Rei fora acrescido para diferençar o nosso Sergipe do Sergipe do Conde (o conde de Linhares, D. Fernando de Noronha, o primeiro marido de D. Felipa de Sá, filha de Mem de Sá). Essa dívida com a Bahia, não poderemos esquecer jamais, afirma Sebrão.
Além do batismo, também os primeiros sinais da sergipanidade estão ligados à experiência baiana. A identidade sergipana manifesta-se freqüentemente como reação à cobiça do vizinho sobre as riquezas do lado de cá. Nos Fragmentos, Sebrão registra todo o seu incômodo em relação a esse outro. Em primeiro lugar, enfatiza que coube aos habitantes locais a repressão aos franceses das costas sergipanas. A esses também se devem os méritos pelo início da derrota holandesa em termos de Brasil. E o que nos devolve a Bahia? Responde Sebrão: a cobrança constante dos impostos sobre o gado; o descaso com a recuperação da economia local e com a reedificação da cidade de São Cristóvão; o esquadrinhamento policial da capitania de Sergipe sob o pretexto de prear índios e combater quilombos; a extração de dinheiro e gado para equilibrar as contas da nobreza e saciar a fome na Bahia; a extração de braços armados de Sergipe para minimizar o temor baiano de uma possível invasão holandesa.
Por esses exemplos, vê-se como Sebrão despreza a historicidade das duas formações – Sergipe e Bahia – “misturando” as proveniências do nativo sergipano do período colonial e confundindo a sede do Estado português do inexistente Brasil com a entidade Bahia, que só parece ganhar a forma atual após a perda do status de base geográfica do poder central para o Rio de Janeiro.
Mas, essa atitude tem suas razões. Ressaltar a cor local exige sacrifícios. Um deles é justapor a ciência dos fatos – a História – à essência das coisas – a identidade. Esse esforço de transformar História em memória levará Sebrão a divulgar algumas teses, no mínimo, curiosas: 1) que os nascidos em Sergipe foram os primeiros a experimentarem o ofício de bandeirante. Foi  no atual território que o Governador D. Francisco de Souza garimpou em busca das minas de prata (1591/1602) de Belchior Dias Moréia; 2) que Sergipe já foi sede do poder central no Brasil. O mesmo D. Francisco bandeirante elevou a região à capitania régia. E o fez “para nela sediar o Estado do Brasil, enquanto estivesse “cavocando” a serra de Itabaiana; 3) que o “dois de Julho” é uma efeméride tão baiana quanto sergipana, posto que a derrota impingida aos portugueses foi viabilizada com suprimentos e homens sergipanos; 4) que Sergipe possui a mais antiga instituição musical do Brasil: a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (de Itabaiana, é óbvio).
Da proeminência factual, diante da História do Brasil, passa Sebrão à natureza do sergipano que, por sua vez é lapidada pela ação do professor: “o sergipano tem a bondade do baiano e a sizânia do alagoano de Pernambuco. Reparte-se entre o riso, a gargalhada inteligente e o esgar sanguinário, medeiando-os com qualidades congênitas, mesológicas, habilmente cultivadas pelo mestre-escola, representado pelo padre secular, pelo tabelião público ou por outro letrado qualquer, licenciado em letras forenses como advogado e, fora da rabulice, professor” (p. 53).
Essa “bondade do baiano” é apenas uma rápida concessão do sergipanismo desse autor. A Bahia é mesmo o nosso outro, um diferente ameaçador. Para se ter idéia dos limites da inventividade (freudiana?) de Sebrão, observemos essa passagem onde ele narra o processo de redução progressiva – de Itapoã ao rio Real – do território sergipano, um dos maiores crimes cometidos pela velha mulata: “Cara madre, madre incestuosa, não tendo valor para impor medo a Sergipe, rebelde a todo açaimo, saberia estonteá-lo em suas carícias fesceninas e, em danças nos rios, comeria todas as terras. Iniciara a [geofagia] das latifundiárias terras do filho e amante nos banhos do rio limítrofe entre a Mãe e o Filho, entre a Mulata Velha e o Índio, o Itapoã. Dali, ela o levaria num pisa-pisa de cateretê ao Subauma. Levando-o pela mão, ao chegar ao Itapicuru, o garoto saltou na corrente e a Mãe pulou nas costas. Seguiram para o rio Real, onde ela lhe deu formidável rasteira que quase o galaceava, afogando-o, mas ele conseguiu desvencilhar-se-lhe, que o queria todo devorado. Mais terra degluteria de Sergipe a Bahia, se não tomasse o feliz alvitre de esconder-se dela”. (p. 275).
Essa semana, Sebrão virou notícia. Pelas mãos do historiador Vladimir de Souza Carvalho, veio à lume mais uma parte da sua obra dispersa em vários jornais sergipanos. Fragmentos de histórias municipais e outras histórias (Aracaju: Instituto Luciano Barreto Júnior, 2003) trata da experiência sergipana circunscrita aos municípios de Itaporanga, Rosário do Catete, Carmópolis, Simão Dias, Lagarto, Estância, Itabaiana, Ribeirópolis, Frei Paulo e Neópolis. São mais de quatrocentas páginas, contendo os originais de Sebrão, anotados por Vladimir, produzidos a partir da década de 1940. O livro traz fotografias do historiador itabaianense em vários momentos da vida. Apresenta, inclusive, um flagrante do seu sepultamento em 1973. Observando essa imagem, penso que Sebrão, sobrinho jamais imaginaria que os grandes intelectuais da terra estariam reunidos no Instituto Luciano Barreto Júnior, trinta e um anos depois de lançados os Fragmentos da História de Sergipe, para adquirir um exemplar dos Fragmentos da História dos municípios. Quem ainda não adquiriu o livro e perdeu o prestigiado lançamento da quinta-feira, pode ainda contar com o autógrafo do organizador no próximo dia 27, quando o livro será lançado em Itabaiana. Da minha parte, vou prosseguindo com a leitura da obra que, certamente rendará mais tintas sobre as – por enquanto – curiosas teses defendidas na primeira metade do século passado.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. O sergipanismo do historiador Sebrão Sobrinho. A Semana em Foco, Aracaju, p. 8 B-8 B, 24 ago. 2003.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumário desta obra, acesse: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.

terça-feira, 19 de agosto de 2003

A licenciatura em História faz cinqüenta anos

A primeira turma do curso de Geografia e História foi constituída em 1951, a partir da autorização provisória concedida pela inspeção federal à Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Fundada um ano antes, e mantida pela Sociedade Sergipana de Cultura, a FCFS também abrigava em seu primeiro lustro os cursos de Filosofia, Matemática e Línguas neo-latinas e anglo-germânicas (cf. Santos, 1998).  O início não foi fácil.  Como ocorrera em outras localidades, as matrículas na Faculdade de Filosofia estiveram aquém do seu limite de vagas – trinta alunos. O curso de Geografia e História é um exemplo desse obstáculo inicial: o total de matriculados variou entre 12, 13, 12 e 17 estudantes por ano. O referido curso representou, respectivamente, 20%, 26%, 17%, e 23% do total de alunos da Faculdade no período 1952/1955 (cf. Freitas, 1993).
Do quadro docente (1952/1955), há registros de, pelo menos, dezessete professores atuantes na Faculdade de Filosofia. O perfil era multifacetado. Três tipos dominaram a cena: o filósofo/teólogo, os bacharéis em ciências jurídicas e sociais e os engenheiros. Os médicos contavam apenas três, havendo também um odonto-clínico. Isso demonstra quão distante encontravam-se os cursos superiores das práticas de especialização nas Letras, na História e na Geografia. Apenas Maria Thétis Nunes, Clarice Xavier de Oliveira e Maria da Conceição Barreto Ouro fugiam à silhueta do lente do final século XIX e das décadas iniciais do século XX. As duas primeiras professoras eram diplomadas em Geografia e História e a última em Letras neo-latinas.
Mas, não se pense que o reduzido número de especialistas em Geografia e História significou um entrave intransponível à formação dos alunos. De início, é forçoso lembrar a abrangência dos estudos superiores desinteressados antes da década de 1930 e a simplicidade da estrutura curricular do curso de Geografia e História (tomando o ensino superior atual como termo de comparação). O nosso Geografia e História não estava muito distante do primeiro esboço criado em São Paulo em 1934. Tal padrão, contudo, já era bastante criticado por José Honório Rodrigues com base no ensino norte-americano, posto que não incluía disciplinas “de método”, traço diferencial para a formação historiadora. Mas... precisávamos de historiadores?
O curso sergipano, provavelmente modelado pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, era ministrado em três anos (dois períodos por ano), mediante nove disciplinas: Geografia Física (1º e 2º ano), Geografia Humana (1º e 2º) e Geografia do Brasil (3º ano); História da Civilização (1º, 2º e 3º), História do Brasil (2º e 3º), História da América (3º). Além dessas disciplinas, ofertava-se Teologia para todos os cursos da Faculdade como matéria optativa. Na grade de Geografia e História ela ocupava o 1º e o 2º ano do curso.
Já se vão quase cinqüenta anos de formação das duas primeiras turmas, entre as quais incluíram-se Elisete Batista Nogueira, Gildete Santos Lisboa, Josefina Sampaio Leite, Maria Clara V. de Faro Passos, Magnória de Nazareth Magno, Izabel Amaral Barreto, Maria de Lourdes Araújo Fontes e Adelci Figueiredo Santos. Foram vencidas, portanto, as cinco décadas que separam o tempo breve, o tempo dos acontecimentos, o “piscar dos pirilampos” de Ferdinand Braudel, que distingue a conjuntura histórica do tempo intermediário. Os fatos já estão assentados, segundo os metódicos, e já é tempo de historiar a experiência dos professores Lucilo da Costa Pinto (Antropologia), Gonçalo Rollemberg Leite (História da Civilização), Joaquim Fraga Lima (Geografia Humana), Petru Stefan (Geografia Física) e Maria Thétis Nunes (História do Brasil), mestres que cumpriram os pontos diários do curso de Geografia e História no ano de 1952.
Se não for possível fazer história da vivência dessas pessoas e sobre as práticas da Faculdade de Filosofia, que se registre ao menos, o depoimento dos instituidores do oficio de Clio em nível superior nas terras de Sergipe no ano do seu cinqüentenário. Oportuna a efeméride e mais oportuna ainda é a nova conjuntura que se nos avizinha: não bastasse o curso de História da UFS ter enriquecido a bibliografia sergipana em mais de duas centenas de trabalhos nos anos noventa (além de ter aberto um curso noturno), nesse momento, a comunidade acadêmica observa meio estupefata a ampliação 80 para 240 o número de vagas nos cursos de licenciatura em História, quando acrescida a oferta da Universidade Tiradentes no segundo semestres de 2003 (160 vagas). É um bom começo de século, tanto para a formação do historiador como para a oficio de professor de História. E então? O cinqüentenário das primeiras turmas vale ou não uma monografia? A sugestão está registrada.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. A licenciatura em História faz cinquenta anos. Jornal da Cidade, Aracaju, 19 ago. 2003.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumário desta obra, acesse: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.