sexta-feira, 1 de março de 2002

A escrita da história na "Casa de Sergipe" (1913/1999)

FREITAS, Itamar. A escrita da História na
"Casa de Sergipe" (1913/1999). São Cristóvão:
Editora da UFS, 2002.
O periódico "revista é uma publicação que, como o nome sugere, passa em revista diversos assuntos, permitindo um tipo de leitura fragmentada, não contínua, e por vezes seletiva". É um veículo intermediário entre o jornal e o livro, que vem constituindo-se, desde o final do século XIX, no Brasil, em fonte privilegiada sobre transformações dos modos de vida, das múltiplas dimensões da sociedade, notadamente dos habitantes de centros densamente urbanizados (Cf. Rocha, 1985).
Entre os traços principais da revista, os especialistas, como Ana Luiza Martins, têm indicado – além das questões que envolvem a edição, extensão dos trabalhos, autoria, periodicidade e material utilizado na confecção – o caráter seriado e condensado, o propósito informativo, formador e de representação de grupo (Cf. Cruz, 1977, p. 22; Martins, 2001, p. 281). É, principalmente, esse último traço diacrítico, distanciando0 do jornal e do livro, que nos interessa neste trabalho. A revista é estratégia de formação, apresentação, delimitação e legitimação de gupos intelectuais.
No que diz respeito às instituições científicas, essa prática transformou-se em regra e pode-se até avaliar as possibilidades de sobrevivência das associações eruditas (no século XIX) e dos chamados institutos científicos (no século XX, sobretudo), através da longevidade e da capacidade de circulação dos seus periódicos.
Para além de uma simples “novidade” dos estudos da História sócio-cultural, esse interesse pelas revistas institucionais/científicas sempre foi redobrado entre os historiadores da historiografia. Mais que difundir e controlar as práticas do ofício – assegurando a propriedade intelectual, divulgando resultados originais de pesquisa, revisando a literatura e mantendo “padrões de qualidade” (Cf. Muller, 200, p. 73-95) –, o periódico revista é um repositório fundamental para o auto-exame das práticas do historiador.
Através de revistas institucionais – programas de pós-graduação, departamentos dde História, grupos de pesquisa, e de institutos históricos a memória do saber vai se constituindo aos poucos, quase imperceptivelmente.
Um olhar retrospectivo sobre essa cultura historiográfica permite reconhecer, por exemplo, os maître d’école, a trajetória do método e as motivações para a escrita e reescrita entre vários grupos ou gerações de historiadores.
Em suma, o exame das revistas de História viabiliza tarefas fundamentais da história da historiografia como o ato de descrever, problematizar e reorientar as práticas, a função, o produto da ciência histórica.
Justifica-se, então, a ocorrência crescente de estudos sobre as revistas dos institutos históricos no Brasil, nos últimos anos, que seguem, na maioria dos casos, a esteira dos estudos sobre os próprios grêmios. A matriz inicial, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é a que tem sido objeto de estudo por parte de historiadores e cientistas sociais.
Quanto às revistas dos institutos estaduais – principalmente daqueles que não possuem a prerrogativa de terem introduzido a pesquisa histórica em seus espaços de influência, dos que foram fundados no período republicano, e esse é o caso do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe –, a quantidade de textos que delas se ocupam, mesmo que tangencialmente, é ainda muito reduzida.
Este trabalho, portanto, tenta diminuir as lacunas sobre as instituições regionais e seus periódicos, optando por três itinerários: 1. Sintetizar algumas características do IHGS; 2. Descrever brevemente a trajetória da Revista do IHGS em termos de produção e circulação e do perfil dos autores/colaboradores; 3. Analisar os tipos documentais produzidos, os temas e problemas dominantes, as formas locais de fazer Geografia e História.

Sumário
Apresentação  5
A escrita da história na “Casa de Sergipe”  11
O periódico revista  11
·         Um pouco da “Casa de Sergipe”  14
·         Sobre a produção e circulação da Revista do IHGS  21
·         Dos autores, textos e distribuição da matéria  26
·         A contribuição heurística  32
·         A contribuição geográfica  36
·         A contribuição historiográfica
·         A biografia  41
·         Memórias
Os enunciados  47
Das idéias de “história”  50
Os modos de “fazer”  54
Considerações finais  59
Catálogo da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe  65
Índice analítico da Revista do IHGS  181
Índice de autores da Revista do IHGS  195
Referências bibliográficas  201

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Itamar Freitas <itamarfo@gmail.com>.

Referências
ROCHA, Clara. Revistas literárias do século XX em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985. p. 33. Apud. MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República. São Paulo: FAPESP/EDUSP/Imprensa Oficial, 2001.
CRUZ, Heloiza de Faria (org.). São Paulo em revista. São Paulo: CEDIC-PUC/SP; Arquivo do Estado, 1977.
MUELLER, Susana e KREMER, Jeannette Marguerite (org.). Fontes de informação para pesquisadores e profissionais: Belo Horizonte: UFMG, 2000. P. 73-95.