quinta-feira, 22 de fevereiro de 2001

Por uma História da Universidade Federal de Sergipe

Entrada frontal da Reitoria da UFS.
Fonte: www.ufs.br
A experiência da Universidade Federal de Sergipe, como instituição, ainda não foi historiada. Essa é a constatação rotineira de todos os que se debruçam sobre um determinado aspecto das suas atividades de forma um pouco mais sistemática. A inexistência de um trabalho de síntese tem sido reclamação de pesquisadores em geral, de alguns cidadãos usuários dos seus serviços, mas também da maioria dos administradores da própria UFS. Justificativas sobre essa lacuna historiográfica não faltam, e os mesmos "reclamantes" acabam concordando entre si que a elaboração de uma obra dessa natureza enfrentaria problemas de ordem metodológica, financeira, ideológica etc. Fala-se em dispersão de fontes, nas dificuldades em estudar uma empresa com atores e interesses tão diferenciados, com ações incrustadas em vários setores da sociedade. Estabelecendo também a minha hipótese, eu diria que a produção de uma narrativa sintética sobre a UFS, além das motivações expostas, esbarra, sim, na permanente discussão de questões sobre as quais não há consenso sequer estratégico/temporário, tais como: o que é uma Universidade? Para que serve uma Universidade? Qual a Universidade que queremos? Que tipo de Universidade tem sido construída ao longo desses trinta e dois anos? Sendo assim, vamos fazendo muita história no dia-a-dia (protestando com greve, subindo no ranking do "provão", dizendo impropérios na formatura, inaugurando laboratórios, invadindo o prédio da Reitoria, descobrindo o valor terapêutico de ervas vulgares, ganhando prêmios internacionais etc.) e relegando, quase sempre, a historiografia sobre a instituição a um plano inferior (quando muito, a alguns folhetos produzidos de cinco em cinco anos).
Certamente, alguns "reclamantes" administradores têm dado a sua contribuição. Os Relatórios de Gestão e os textos sobre Planejamento Institucional não chegam a se constituírem documentos historiográficos, mas registram (ou reconstituem) os "feitos" oficiais de até uma década. Grupos de pesquisadores têm inventariado narrativas (Núcleo de Pesquisa Sociedade e Educação), professores aposentados têm produzido artigos (Beatriz Góis Dantas, Maria Thetis Nunes) e algumas monografias abordam as escolas fundadoras da Universidade como as de Serviço Social e Filosofia. Mas o trabalho sintético sobre a instituição ainda é um desafio para todos.
Um raro exemplo daquilo a que me refiro está na dissertação de Luiz Eduardo Oliva O processo de gestação de uma universidade do Nordeste: o caso Sergipe (UFSC, 1990). Esse trabalho procura, entre outros fins, "apontar as razões do surgimento tardio do ensino superior em Sergipe" e, para tanto, analisa os condicionantes econômicos, sociais e políticos que permitiram a concretização da empreitada, desde meados da década de 1920. Sob as lentes de Gramsci e Althusser, Oliva chegaria, certamente, a resultados metodologicamente previsíveis: a introdução do ensino superior em Sergipe dependeu do quadro econômico da época, e, portanto, está ligado aos interesses da classe dominante (reprodução das relações sociais de produção). Por essa visão, o autor tanto explica a fundação dos cursos superiores nas décadas de 1940 e 1950 (recuperação da indústria açucareira - Química; planificação do desenvolvimento - Economia; modernização do Estado - Direito; educação do operariado - Faculdade de Filosofia; "apaziguamento dos desafortunados" - Medicina e Serviço Social) quanto a instalação da Universidade Federal de Sergipe, motivada, principalmente pela política desenvolvimentista em nível local (exploração do petróleo e outros recursos naturais). Uma das contribuições desse trabalho está justamente na interpretação empreendida sobre a fundação da UFS e na tentativa de esboçar uma síntese sobre a experiência universitária sergipana.
Recentemente, durante a comemoração dos trinta anos da UFS, a comissão responsável pelo evento achou por bem historiar a experiência da instituição, senão em todos os ramos da sua atividade, pelo menos em relação ao ensino de graduação. O resultado do trabalho, organizado pelas professoras Maria Stella Tavares Rollemberg e Lenalda Andrade Santos (sob o apoio institucional da COAVI/COGEPLAN) foi lançado em 30/08/2000 no auditório da Reitoria, com a ausência, infelizmente, de oitenta por cento dos quarenta e três professores e mais de vinte estagiários que escreveram a obra UFS: História dos cursos de graduação. Ao todo, vinte e seis artigos constituem o trabalho que enfoca a trajetória dos cursos existentes até 1998 com suas respectivas modalidades e habilitações. Uma produção simples do CEAV/CIMPE, porém, muito bem cuidada. O texto inclui fotografias em p&b que retratam as faculdades fundadoras, os Centros acadêmicos e oferecem vista aérea da Cidade Universitária.
É uma iniciativa que nasce vitoriosa, pois, além de reunir pesquisadores que já se debruçavam sobre a história dos cursos (como Serviço Social e Enfermagem), cobrou dos mais antigos (Letras, Direito) o registro de suas trajetórias e estimulou os mais recentes (Engenharia Agronômica) a preservarem os eventos significativos de suas experiências. O livro traça o perfil de como está a UFS em termos de ensino de Graduação na entrada do novo milênio e, "de quebra", aponta e recolhe depoimentos importantes, já que alguns elementos da geração fundadora estão presentes, felizmente, para nos contar a história.
Mas, não esperem do livro um "maná" para todas as lacunas da história dos cursos na UFS. Deve-se ler o trabalho de forma compreensiva em relação às suas características, e a principal delas é a descompensação decorrente, é óbvio, da própria natureza coletiva e interdisciplinar da obra. A pluralidade a que me refiro está presente numa série de componentes, como: na formação acadêmica da autoria, constituída por físicos, cientistas sociais, biólogos etc.; na definição do objeto de trabalho, o curso, muitas vezes confundido com o departamento que lhe dá suporte; e nas formas de composição e estilo, variantes entre o sintético, o digressivo, o analítico, entre o matemático, o comedido e o “literário”. A diversidade também é expressa nos elementos selecionados como substanciais para cada texto. Nesse ponto as escolhas privilegiaram tanto o esforço dos professores pioneiros quanto a evolução da grade curricular, a formação do quadro docente, a inserção do curso na sociedade, os quadros e gráficos relativos a vagas, matrículas, diplomação, evasão, concorrência no vestibular etc.
Como não poderia deixar de ser, a idéia de produção historiográfica também mostra-se plural. As diferenças de concepção podem ser notadas na escolha dos atores da história; quem mais teria influenciado na trajetória de cada curso: professores, técnicos administrativos ou alunos? Os marcos temporais também flutuam. São elásticos o bastante para incluírem a década de 1920 ou o século XIX. Em outros casos, restringem-se à década de 1970 saltando, imediatamente, para o ano 1998. As fontes variam com o grau de acessibilidade e organização e até mesmo com a competência de cada autor em “dissecá-las”. Nos textos, predomina o depoimento oral em detrimento da documentação arquivística e bibliográfica. Em relação aos “motores da história”, a maioria é indiferente. Mas, há casos em que essa questão ganha um certo relevo, levando o leitor a se perguntar: o que determina a criação de um curso superior: a política do regime militar, a ideologia da igreja católica ou o voluntarismo de alguns professores ilustrados?
Talvez essa pluralidade responda também pela ausência da marca das organizadoras em alguns capítulos (questões como criação de curso, proposta original, evolução, corpos docente e discente, avaliação e inserção do curso na sociedade através do ensino, pesquisa e extensão). Mas essa diversidade é a mesma que já começa a sugerir um tipo ideal para uma próxima história de curso. É também através dela que se pode chegar a conhecer outros aspectos da UFS não estabelecidos no projeto original da obra, como a origem dos cursos de pós-graduação, a criação de alguns órgãos - o Hospital Universitário, o Biotério, o Museu de Antropologia - e o conhecimento de projetos vencidos, como a idéia de instalar o curso de Odontologia na cidade de Estância, a idéia de construir o HU na Cidade Universitária etc. Por esses tantos motivos, a História dos cursos de Graduação já é obra de referência sobre a história da UFS.
Os textos citados até aqui representam a tentativa de tornar inteligível a experiência de um verdadeiro "polvo" que não parou de crescer (felizmente) e mudar de cor nos últimos trinta e dois anos. Os problemas e métodos inerentes ao "como fazer" essa historiografia não foram e não serão resolvidos com a publicação de mais uma obra. Cada iniciativa desse tipo é bem vinda e só contribui para o refinamento dessa empresa que seria a síntese sobre a história da UFS. Para os "práticos" e céticos é importante a ressalva de que esse projeto não é irrelevante, já que a história vem sendo evocada na maioria dos discursos, em cada momento de decisão, ruptura ou aceleração dos destinos da instituição. A história da UFS vem sendo deglutida por força da autoridade ou da eloqüência dos evocadores, embora a sua narrativa nem sempre obedeça um certo tratamento científico.
Para contribuir com o debate, tendo por base os recentes acontecimentos -conflitos de identidade entre os professores e alunos do Campus, o Programa de Qualificação Docente, a defesa do processo democrático durante as eleições para Reitor, por exemplo -, sou levado a melhor compreender o processo histórico e, em seguida, reordenar posições teóricas em relação à questão. Para além das determinações de ordem estrutural (explicitadas por Luiz Eduardo Oliva) e dos condicionantes impostos pela conjuntura (presentes em alguns capítulos da obra coletiva), uma possível narrativa sobre a história da UFS deverá levar em conta o caráter historicista que vigorou na França no último quartel do século XIX e considerar com atenção os pequenos fatos, as pequenas causas e as determinações de ordem micropolítica (política no sentido weberiano). Talvez a historiografia da UFS possa ser pensada (e aqui não vai nenhuma consideração de ordem moral) mais em termos de pequenos ciúmes, secretos desejos, conflitos conjugais, rusgas de corredor e pequenas vinganças pessoais que em nível de determinações emanadas dos gabinetes de FHC, do FMI e do Banco Mundial. Mas essa é apenas uma possibilidade entre tantas outras oferecidas pelo ofício do historiador e pelo interesse de mais um "reclamante". 

Para citar este texto

FREITAS, Itamar. Por uma história da UFS. Informe UFS, São Cristóvão, p. 4-5, 22 fev. 2001.

Por uma história da UFS

A experiência da Universidade Federal de Sergipe, como instituição, ainda não foi historiada. Essa é a constatação rotineira de todos os que se debruçam sobre um determinado aspecto das suas atividades de forma um pouco mais sistemática. A inexistência de um trabalho de síntese tem sido reclamação de pesquisadores em geral, de alguns cidadãos usuários dos seus serviços, mas também da maioria dos administradores da própria UFS. Justificativas sobre essa lacuna historiográfica não faltam e os mesmos "reclamantes" acabam concordando entre si que a elaboração de uma obra dessa natureza enfrentaria problemas de ordem metodológica, financeira, ideológica etc. Fala-se em dispersão de fontes, nas dificuldades em estudar uma empresa com atores e interesses tão diferenciados, com ações incrustadas em vários setores da sociedade. Estabelecendo também a minha hipótese, eu diria que a produção de uma narrativa sintética sobre a UFS, além das motivações expostas, esbarra, sim, na permanente discussão de questões sobre as quais não há consenso sequer estratégico/temporário tais como: o que é uma Universidade? Para que serve uma Universidade? Qual a Universidade que queremos? Que tipo de Universidade tem sido construída ao longo desses trinta e dois anos? Sendo assim, vamos fazendo muita história no dia a dia (protestando com greve, subindo no ranking do "provão", dizendo impropérios na formatura, inaugurando laboratórios, invadindo o prédio da Reitoria, descobrindo o valor terapêutico de ervas vulgares, ganhando prêmios internacionais etc.) e relegando, quase sempre, a historiografia sobre a instituição a um plano inferior (quando muito, a alguns folhetos produzidos de cinco em cinco anos).
Certamente, alguns "reclamantes" administradores têm dado a sua contribuição. Os Relatórios de Gestão e os textos sobre Planejamento Institucional não chegam a se constituírem documentos historiográficos mas registram (ou reconstituem) os "feitos" oficiais de até uma década. Grupos de pesquisadores têm inventariado narrativas (Núcleo de Pesquisa Sociedade e Educação), professores aposentados têm produzido artigos (Beatriz Góis Dantas, Maria Thetis Nunes) e algumas monografias têm abordado as escolas fundadoras da Universidade como as de Serviço Social e Filosofia. Mas o trabalho sintético sobre a instituição ainda é um desafio para todos.
Um raro exemplo daquilo a que me refiro está na dissertação de Luiz Eduardo Oliva O processo de gestação de uma universidade do Nordeste: o caso Sergipe (UFSC, 1990). Esse trabalho procura, entre outros fins, "apontar as razões do surgimento tardio do ensino superior em Sergipe" e, para tanto, analisa os condicionantes econômicos, sociais e políticos que permitiram a concretização da empreitada, desde meados da década de 1920. Sob as lentes de Gramsci e Althusser, Oliva chegaria, certamente, a resultados metodologicamente previsíveis: a introdução do ensino superior em Sergipe dependeu do quadro econômico da época, e, portanto, está ligado aos interesses da classe dominante (reprodução das relações sociais de produção). Por essa visão, o autor tanto explica a fundação dos cursos superiores nas décadas de 1940 e 1950 (recuperação da indústria açucareira - Química; planificação do desenvolvimento - Economia; modernização do Estado - Direito; educação do operariado - Faculdade de Filosofia; "apaziguamento dos desafortunados" - Medicina e Serviço Social) quanto a instalação da Universidade Federal de Sergipe, motivada, principalmente pela política desenvolvimentista em nível local (exploração do petróleo e outros recursos naturais). Uma das contribuições desse trabalho está justamente na interpretação empreendida sobre a fundação da UFS e na tentativa de esboçar uma síntese sobre a experiência universitária sergipana.
Recentemente, durante a comemoração dos trinta anos da UFS, a comissão responsável pelo evento achou por bem historiar a experiência da instituição, senão em todos os ramos da sua atividade, pelo menos em relação ao ensino de graduação. O resultado do trabalho, organizado pelas professoras Maria Stella Tavares Rollemberg e Lenalda Andrade Santos (sob o apoio institucional da COAVI/COGEPLAN) foi lançado em 30/08/2000 no auditório da Reitoria, com a ausência, infelizmente, de oitenta por cento dos quarenta e três professores e mais de vinte estagiários que escreveram a obra UFS: História dos cursos de graduação. Ao todo, vinte e seis artigos constituem o trabalho que enfoca a trajetória dos cursos existentes até 1998 com suas respectivas modalidades e habilitações. Uma produção simples do CEAV/CIMPE, porém, muito bem cuidada. O texto inclui fotografias em p&b que retratam as faculdades fundadoras, os Centros acadêmicos e oferecem vista aérea da Cidade Universitária.
É uma iniciativa que nasce vitoriosa pois, além de reunir pesquisadores que já se debruçavam sobre a história dos cursos (como Serviço Social e Enfermagem), cobrou dos mais antigos (Letras, Direito) o registro de suas trajetórias e estimulou os mais recentes (Engenharia Agronômica) a preservarem os eventos significativos de suas experiências. O livro traça o perfil de como está a UFS em termos de ensino de Graduação na entrada do novo milênio e, "de quebra", aponta e recolhe depoimentos importantes, já que alguns elementos da geração fundadora estão presentes, felizmente, para nos contar a história.
Mas não esperem do livro um "maná" para todas as lacunas da história dos cursos na UFS. Deve-se ler o trabalho de forma compreensiva em relação às suas características e a principal delas é a descompensação decorrente, é óbvio, da própria natureza coletiva e interdisciplinar da obra. A pluralidade a que me refiro está presente numa série de componentes como: na formação acadêmica da autoria, constituída por físicos, cientistas sociais, biólogos etc.; na definição do objeto de trabalho, o curso, muitas vezes confundido com o departamento que lhe dá suporte; e nas formas de composição e estilo, variantes entre o sintético, o digressivo, o analítico, entre o matemático, o comedido e o “literário”. A diversidade também é expressa nos elementos selecionados como substanciais para cada texto. Nesse ponto as escolhas privilegiaram tanto o esforço dos professores pioneiros quanto a evolução da grade curricular, a formação do quadro docente, a inserção do curso na sociedade, os quadros e gráficos relativos a vagas, matrículas, diplomação, evasão, concorrência no vestibular etc.
Como não poderia deixar de ser, a idéia de produção historiográfica também mostra-se plural. As diferenças de concepção podem ser notadas na escolha dos atores da história; quem mais teria influenciado na trajetória de cada curso: professores, técnicos administrativos ou alunos? Os marcos temporais também flutuam. São elásticos o bastante para incluírem a década de 1920 ou o século XIX. Em outros casos, restringem-se à década de 1970 saltando, imediatamente, para o ano 1998. As fontes variam com o grau de acessibilidade e organização e até mesmo com a competência de cada autor em “dissecá-las”. Nos textos, predomina o depoimento oral em detrimento da documentação arquivística e bibliográfica. Em relação aos “motores da história”, a maioria é indiferente. Mas há casos em que essa questão ganha um certo relevo, levando o leitor a se perguntar: o que determina a criação de um curso superior, a política do regime militar, a ideologia da igreja católica ou o voluntarismo de alguns professores ilustrados?
Talvez essa pluralidade responda também pela ausência da marca das organizadoras em alguns capítulos (questões como criação de curso, proposta original, evolução, corpos docente e discente,  avaliação e inserção do curso na sociedade através do ensino, pesquisa e extensão). Mas essa diversidade é a mesma que já começa a sugerir um tipo ideal para uma próxima história de curso. É também através dela que se pode chegar a conhecer outros aspectos da UFS não estabelecidos no projeto original da obra, como a origem dos cursos de pós-graduação, a criação de alguns órgãos como o Hospital Universitário, o Biotério, o Museu de Antropologia e o conhecimento de projetos vencidos como a idéia de instalar o curso de Odontologia na cidade de Estância, a idéia de construir o HU na Cidade Universitária etc. Por esses tantos motivos, a História dos cursos de Graduação já é obra de referência sobre a história da UFS.
Os textos citados até aqui representam a tentativa de tornar inteligível a experiência de um verdadeiro "polvo" que não parou de crescer (felizmente) e mudar de cor nos últimos trinta e dois anos. Os problemas e métodos inerentes ao "como fazer" essa historiografia não foram e não serão resolvidos com a publicação de mais uma obra. Cada iniciativa desse tipo é bem vinda e só contribui para o refinamento dessa empresa que seria a síntese sobre a história da UFS. Para os "práticos" e céticos é importante a ressalva de que esse projeto não é irrelevante, já que a história vem sendo evocada na maioria dos discursos, em cada momento de decisão, ruptura ou aceleração dos destinos da instituição. A história da UFS vem sendo deglutida por força da autoridade ou da eloqüência dos evocadores, embora a sua narrativa nem sempre obedeça um certo tratamento científico.
Para contribuir com o debate, tendo por base os recentes acontecimentos, como conflitos de identidade entre os professores e alunos do Campus, o Programa de Qualificação Docente, a defesa do processo democrático durante as eleições para Reitor, por exemplo, sou levado a melhor compreender o processo histórico e em seguida reordenar posições teóricas em relação à questão. Para além das determinações de ordem estrutural (explicitadas por Luiz Eduardo Oliva) e dos condicionantes impostos pela conjuntura (presentes em alguns capítulos da obra coletiva), uma possível narrativa sobre a história da UFS deverá levar em conta o caráter historicista que vigorou na França no último quartel do século XIX e considerar com atenção os pequenos fatos, as pequenas causas e as determinações de ordem micropolítica (política no sentido weberiano). Talvez a historiografia da UFS possa ser pensada (e aqui não vai nenhuma consideração de ordem moral) mais em termos de pequenos ciúmes, secretos desejos, conflitos conjugais, rusgas de corredor e pequenas vinganças pessoais que em nível de determinações emanadas dos gabinetes de FHC, do FMI e do Banco Mundial. Mas essa é apenas uma possibilidade entre tantas outras oferecidas pelo ofício do historiador e pelo interesse de mais um "reclamante".

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Por uma história da UFS. Informe UFS, São Cristóvão, p. 4-5, 22 fev. 2001.